“Ladrão Lula, diz que vai implementar o comunismo chinês no Brasil“, destaca-se numa das publicações do vídeo em causa, o qual está a ser partilhado viralmente no Brasil.
As imagens mostram um excerto do que parece ser uma reportagem da Rede Globo sobre agressões sofridas por funcionários de um banco na China. “Veja como o trabalhador é tratado na China”, sublinha o jornalista.
“A cena mostra oito funcionários de um banco de Changzhi, uma cidade que fica no Norte da China. Eles estão sendo questionados sobre por que tiveram um desempenho ruim no trabalho. São quatro homens e quatro mulheres… A imagem não é muito clara. Logo depois, começa o espancamento, um de cada vez”, descreve.
Depois surge uma gravação com a voz de Lula da Silva a proferir a seguinte afirmação: “A China tem um partido que tem poder, que tem um Estado forte que toma decisões e que as pessoas cumprem, coisa que nós não temos aqui no Brasil (…) A China é um exemplo de desenvolvimento para o mundo.”
Após um breve corte, ouve-se a frase mais polémica: “Mas eu tenho muita fé, muita esperança de que nós vamos conseguir fazer isso a partir de 2022.”
Entretanto, a AFP Checamos, plataforma brasileira de verificação de factos, identificou a versão integral da reportagem, emitida no âmbito do telejornal “Bom Dia Brasil” no dia 21 de junho de 2016. E importa desde já recordar que, nessa altura, o Brasil era presidido por Dilma Rousseff, não por Lula da Silva.
Essa reportagem não continha qualquer referência a Lula da Silva, nem a declaração em causa sobre o desenvolvimento da China.
A gravação com a voz de Lula da Silva foi recolhida partir de um um vídeo publicado no YouTube em julho de 2021, com excertos de uma entrevista concedida por Lula da Silva, nessa altura, a um órgão de comunicação social chinês.
Em resposta a uma pergunta sobre que fatores levaram a China a registar um desenvolvimento económico superior ao de outros países desde 1990, Lula da Silva afirmou que o “Estado forte” nesse país desempenhou um papel importante.
Apontou também para o “partido forte” e referiu que os investimentos na Educação contribuíram para a consolidação da economia chinesa. Um país que considerou então ser um “exemplo de desenvolvimento para o resto do mundo”.
“Mais à frente, Lula da Silva falava sobre a integração entre países do Sul global quando afirmou que pretendia ‘conseguir fazer isso a partir de 2022’, sem qualquer referência ao ‘comunismo chinês’, como indica o conteúdo viral”, sublinha a AFP Checamos.
Eis a declaração em causa, na versão integral: “A China é um exemplo de desenvolvimento para o mundo e eu espero que outros países aprendam a lição com a China para que a gente possa ser mais rico, ser mais forte, ter mais distribuição de riqueza e ter um mundo mais humano. Eu trabalhei muito com o Hu Jintao [ex-Presidente da China] a necessidade de uma relação Sul-Sul, não ficar dependente do Norte como nós somos dependentes. Lamentavelmente a gente não conseguiu chegar lá, mas eu tenho muita fé, muita esperança de que nós vamos conseguir fazer isso a partir de 2022.”
Em conclusão, o vídeo que está a ser partilhado viralmente nas redes sociais não passa de uma fonte de manipulação e desinformação.
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