“Quo vadis, Europa? Polícia espanhola foge dos desordeiros imigrantes!” É assim que Jorge Galveias, deputado do Chega, descreve as imagens de um clip de vídeo que publicou esta manhã na sua página no X/Twitter. As imagens parecem mostrar um grupo numeroso de indivíduos a correr numa estrada, em meio urbano, na direção de carros da polícia que acabam por recuar devido ao lançamento de pedras ou outros objetos.
“Terrorismo puro”, comenta Pedro Santos Frazão, outro deputado do Chega. Sucedem-se também as mensagens de teor racista e xenófobo, além de incitamento à violência ou apelos à intervenção do Exército para colocar os “imigrantes” na ordem. Por outro lado, avisa-se que “em Portugal vai ser igual” e lamenta-se que “a Europa já está tomada, eles já perderam o território!”
Com recurso a ferramentas de pesquisa como o “Google Lens” ou o “TinEye”, porém, identifica-se a origem das imagens num vídeo que já tinha sido publicado nas redes sociais em 2020. Mais precisamente no dia 31 de outubro de 2020, no contexto das medidas restritivas inerentes à pandemia de Covid-19.
Além de não ser atual, nem sequer recente, as imagens não mostram confrontos entre a polícia espanhola e imigrantes. O que aconteceu na verdade foi que centenas de manifestantes de grupos negacionistas da pandemia de Covid-19 provocaram violentos distúrbios no bairro de Gamonal, em Burgos, cidade espanhola, na noite de 30 de outubro de 2020, ao protestarem contra o dever de recolhimento obrigatório à noite e outras medidas restritivas que estavam em vigor na altura.
Segundo reportou o jornal espanhol “20 minutos”, os manifestantes queimaram contentores do lixo, destruíram paragens de autocarros e arremessaram pedras contra as patrulhas da polícia que tentavam conter os tumultos.
De acordo com o mesmo jornal, as imagens do vídeo retratam alguns momentos em que, perante uma “avalanche de manifestantes” que corriam na sua direção, lançando pedras e outros objetos, a polícia foi obrigada a recuar, não conseguindo então travar a marcha dos negacionistas.
Ao longo dessa semana, aliás, ocorreram manifestações similares de negacionistas da pandemia noutras cidades espanholas como Valência, Bilbau ou Sevilha, em protesto contra o “estado de emergência” e o recolhimento obrigatório.
As autoridades policiais identificaram ligações a movimentos extremistas, nomeadamente claques de futebol, mas não fizeram qualquer referência a supostos “desordeiros imigrantes” – nem encontramos qualquer indício nesse sentido, ressalvando contudo a “transversalidade e heterogeneidade” (como indicou a polícia espanhola) dos manifestantes.
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