"Avisei há alguns dias que os italianos não iam ficar quietos. Uma coisa é brincar aos certificados nos restaurantes, outra é com o trabalho e o ganha-pão das pessoas. A partir de 15 de outubro, foi decidido pelo governo italiano e o senhor Draghi, que quem não tivesse vacina não poderia trabalhar, nem receber. Uma das medidas mais duras no mundo inteiro", alega-se num post publicado no Facebook, datado de 29 de setembro.

Na publicação é partilhado um curto vídeo narrado em língua italiana no qual se observam camiões em fila naquilo que aparenta ser uma paralisação.  No texto, afirma-se ainda: "Os camionistas e agricultores pararam o país nos últimos dois dias e o fornecimento de matérias primas, supermercados, etc, poderão ficar comprometidos nos próximos dias. As convulsões sociais estão a chegar. Ou abrem os olhos, ou vêm aí tempos difíceis."

No vídeo, narra-se em língua italiana (tradução livre): "Enquanto não começarmos, não podemos saber, portanto no 1º de outubro inicia-se o bloqueio total. Digo-vos mais, façam aprovisionamento de comida porque no momento em que os camionistas bloquearem tudo, não chegarão as matérias-primas, portanto levem o necessário para casa de modo que, quem tenha filhos, tenha as coisas que precisa. Mas peço-vos, fiquem em casa, não vão ao trabalho, esta é a última possibilidade que nos resta! Obrigado. Vejamos como corre a manifestação."

De facto, a partir do dia 15 de outubro, entra em vigor em Itália a obrigatoriedade de todos os trabalhadores, sejam do setor público ou privado, apresentarem o certificado digital para entrar no local de trabalho.

Assim, os trabalhadores italianos ficam obrigados por lei a apresentar certificado de vacinação, teste negativo à Covid-19 ou certificado de recuperação válido. Caso não o façam serão suspensos sem remuneração, mas não poderão ser demitidos, tal como esclarece a Reuters. As pessoas que não acatarem a medida e forem trabalhar ficam sujeitos a uma multa entre os 600 e os 1.500 euros.

A nova medida tem dividido a opinião pública em Itália e foram anunciadas, maioritariamente nas redes sociais, várias manifestações e greves contra a decisão. Nestas ações, incluía-se uma greve de camionistas marcada para o passado dia 27 de setembro que, segundo se anunciava, principalmente na rede social Telegram, iria gerar bloqueios nas cadeias de abastecimento de bens de primeira necessidade em todo o país. Antes desta data, os sindicatos e associações representativas do setor já tinham garantido não estar a organizar ou a participar no alegado protesto.

Tal como esclarecido pelo jornal de fact-checking italiano "Facta News", que já verificou uma série de vídeos falsos idênticos ao que está em análise, o protesto de dia 27 de setembro não teve os efeitos antevistos e até proclamados após a sua realização nas redes sociais. De acordo com notícias de vários órgãos de comunicação italianos (que pode consultar aqui e aqui), o protesto apenas originou situações de trânsito ligeiro ou moderado. Ou seja, não existiu qualquer tipo de constrangimento na distribuição de bens.

Em colaboração com o Polígrafo, o "Facta News" conseguiu localizar a origem do vídeo em análise. Na verdade, as imagens foram captadas em março de 2020, tal como pode verificar aqui. Estava em causa uma greve de estivadores do porto de Génova que protestavam contra a falta de higienização do equipamento de trabalho no início da pandemia de Covid-19.

Em suma, conclui-se que o post analisado transmite informação falsa. Não só o vídeo não reporta a recente manifestação de camionistas, uma vez que foi captado no início de 2020, como a greve mencionada não teve qualquer tipo de impacto na cadeia de distribuição de produtos naquele país.

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Nota editorial:este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações "Falso" ou "Maioritariamente Falso" nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

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