No vídeo em causa realiza-se um teste à qualidade do ar que permanece entre a máscara e o rosto do utilizador. Ao primeiro ensaio, sem másca, o aparelho indica 20,6% de oxigénio. Ao segundo ensaio, porém, esse valor cai para 17,4%, com máscara. Recorrendo a um medidor de qualidade do ar, o autor do vídeo pretende demonstrar que a utilização de máscaras - no âmbito das medidas de contenção da pandemia de Covid-19 - provoca uma diminuição nos níveis de oxigénio inspirados e, como tal, é prejudicial à saúde.

O aparelho tem um tubo por onde passa o ar que é analisado. Na primeira parte do teste, o homem coloca o tubo ao lado da boca e respira normalmente, obtendo uma percentagem de oxigénio de 20,5%. Na segunda parte coloca o mesmo tubo entre a máscara e o rosto. É então que o aparelho começa a apitar, indicando que os valores de oxigénio estão em 17,4%, um valor abaixo dos 19,5% que é o mínimo recomendado pela OSHA (Occupational Safety and Health Administration, a entidade norte-americana que regula as condições do trabalho).

O Polígrafo já classificou como falso um vídeo quase similar, no qual Nino Vitale, um político norte-americano do Estado de Ohio, utilizou um medidor para testar os níveis de concentração de oxigénio em três tipos de máscara. Também já foi verificado que as máscaras não causam hipoxia (falta de oxigénio no sangue), nem hipercapnia (excesso de dióxido de carbono no sangue), nem problemas cognitivos.

Também no caso deste novo vídeo estamos perante a difusão de alegações falsas.

"O que interessa é o oxigénio que chega ao sangue", afirma Inês Sanches, pneumologista e coordenadora da comissão de trabalho de reabilitação respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP). "Muitos estudos fizeram avaliações do nível de oxigénio e de dióxido de carbono com o doente a utilizar máscara e não se registou um agravamento destes parâmetros", garante.

A justificação apresentada pela pneumologista para a variação de valores do medidor prende-se com as características do ar que fica temporariamente entre a máscara e o rosto da pessoa. "Se houver alguma modificação, pode ser por alteração da temperatura e da humidade devido ao ar que sai dos pulmões. Não se tem notado redução na qualidade de oxigénio, nem na quantidade de dióxido de carbono [no sangue], portanto as máscaras não interferem com a qualidade do ar que chega", esclarece a especialista.

Também Tiago Alfaro, pneumologista e vice-presidente da SPP, refuta o conteúdo do vídeo, assegurando que os níveis de oxigénio no sangue mantêm-se normais quando se utiliza máscara. "Há uma resposta fisiológica no funcionamento corporal normal. Não daria grande valorização a eventuais medições de oxigénio ambiental que possa haver à frente, atrás ou dentro da máscara”, afirma.

As máscaras certificadas têm que cumprir um conjunto de parâmetros definidos pelo Infarmed e pela Direção-Geral da Saúde (DGS), nomeadamente a resistência do ar, o fator que mede a permeabilidade das mesmas. "A passagem do ar inclui, por exemplo, o oxigénio, o dióxido de carbono e o azoto - que é o principal componente. É muito fácil ver se uma máscara tem alta resistência ou não: se conseguirmos respirar através dela significa que o ar passa e consequentemente o oxigénio, o dióxido de carbono e o azoto", explica o pneumologista.

Existem três tipos de máscaras: os respiradores, as máscaras cirúrgicas e as máscaras não-cirúrgicas, comunitárias ou de uso social. Cada qual tem níveis de permeabilidade distintos, com base na função que irão desempenhar. Os dispositivos médicos e equipamentos de proteção individual reutilizáveis - segundo as recomendações técnicas de utilização de máscaras no âmbito da Covid-19, publicadas pelo Infarmed e pela DGS - devem ter uma "respirabilidade de 8l/min", resistir a uma pressão de "40Pa/s" e permitir "quatro horas de uso ininterrupto sem degradação da capacidade de retenção de partículas, nem da respirabilidade".

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações "Falso" ou "Maioritariamente Falso" nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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