No decorrer do debate realizado esta manhã (27 de fevereiro) na rádio “Observador”, a questão relativa a uma política de imigração regulada suscitou uma expressão de “ironia” na candidata do Chega às eleições legislativas pelo círculo de Lisboa. Confrontada com essa mesma expressão, Marta Trindade justificou que “acusam o Chega de ser extremista quando defende, pelos vistos, exatamente o mesmo que a Aliança Democrática”.
E continuou: “Aquilo que nós defendemos, para já, é um controlo da imigração. Todos sabemos que precisamos de mão-de-obra em todos os setores, agora, onde é que está o levantamento das necessidades reais do país e se existe equilíbrio entre as pessoas que estão a entrar e as suas capacidades e as necessidades reais do país”.
Partindo deste pressuposto, Trindade garantiu que “relativamente aos refugiados, deixemos aqui claro que o partido Chega nunca, em momento algum, fez qualquer limitação ao acolhimento de refugiados de guerra“.
Esta última alegação tem fundamento?
Não. Por entre vários exemplos, destaque para uma intervenção do próprio líder do Chega, André Ventura, num debate com a então ministra das Saúde, Marta Temido, em reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República realizada no dia 9 de dezembro de 2021.
Na altura, Ventura criticou o desempenho de Temido, classificando-o como “um desastre” e “trágico”. Já na fase final da intervenção, apontou: “Como é que nós podemos continuar sem dinheiro para contratar médicos e temos tanto dinheiro para desperdiçar em tudo o que não interessa em Portugal, como para acolher refugiados, dar-lhes casas e continuar por aí adiante? Essa é a verdade que custa ouvir, mas é a verdade que os portugueses devem ouvir.”
Mais recentemente, no decurso da II Convenção de Autarcas do Chega, realizada a 12 de março de 2022, o líder do Chega afirmou que estava “do lado daqueles que defendem as fronteiras, a soberania e a civilização” e, neste conflito (invasão da Ucrânia por forças militares da Rússia) “há uma potência agressora e um país que se defende”. Nesse âmbito, assegurou estar “de braços abertos para receber aqueles que fogem da guerra, que fogem do ataque, da fome e da miséria”, como era o caso dos refugiados ucranianos.
Porém, no discurso de encerramento da referida Convenção, Ventura traçou uma distinção entre refugiados: “Estes [os refugiados ucranianos] não são como alguns dos outros refugiados que chegam de iPhone e telefones de alta gama a Portugal, e que vêm para cá viver à custa dos nossos subsídios e dos nossos impostos. Estes são os que precisam de ser apoiados verdadeiramente. E estes também não são aqueles que vêm para cá para tornar as nossas mulheres objetos e obrigá-las a andar de burca na rua e obrigá-las a serem vítimas das suas próprias qualidades.”
Outro exemplo que contraria a alegação de Trindade remonta a 2021, quando o líder do Chega, André Ventura, defendeu a necessidade de um maior escrutínio ao acolhimento de refugiados, apontando o dedo aos refugiados afegãos.
Em declarações aos jornalistas durante uma ação de pré-campanha para as eleições autárquicas – em que percorreu o Martim Moniz, praça da Figueira e Intendente -, Ventura referiu que o acolhimento de refugiados afegãos “é uma questão que deve ser vista com atenção por parte do Governo português”, para que não haja uma “excessiva islamização das capitais europeias“.
“Não é não sermos solidários, é sermos capazes de ter escrutínio e ter capacidade de filtro em relação a quem vem, e isso não tem acontecido”, afirmou Ventura.
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Avaliação do Polígrafo: