“Para ir de Beja a Faro por comboio, implica subir quase a Lisboa para voltar para baixo, apanhar três comboios e viver duas escalas… Isto no século XXI. A ferrovia, ideia brilhante de Fontes Pereira de Melo (século XIX), tinha tudo para um futuro melhor para o país e o seu desenvolvimento integrado. Já ninguém se recorda do que será o Fontismo! E é lamentável”, critica o autor da publicação no Facebook.
“Regredimos, fechamos linhas, abandonamos zonas do país. (…) Discutem-se novas pontes, novo aeroporto em Lisboa, quando em Beja há condições ímpares para essa localização e uma reformulação viária do país, com uma ferrovia moderna e eficaz. Não se repetiriam essas viagens enormes para tão curta distância“, lamenta.
No que respeita à ligação ferroviária entre Beja e Faro, a descrição é verdadeira?
A distância entre Beja e Faro em linha reta é de 111,24 quilómetros. Se a viagem for de automóvel, o Google Maps oferece três opções, sendo o trajeto mais rápido feito pelo Ip2 e A2, o que corresponde a 147 quilómetros e hora e meia de viagem. O trajeto mais longo seria pelo Ip8 e A2, o que demora 1h54m para fazer 174 quilómetros.
E se a viagem for de comboio?
Até 2012, a viagem entre as duas capitais de distrito incluía uma escala num pequeno troço chamado ramal da Funcheira, situado nas freguesias de Garvão e Panóias, concelho de Ourique, que funciona como ponto de entroncamento entre a Linha do Alentejo e a Linha do Sul.
A 1 de janeiro de 2012, foram encerrados os serviços de passageiros entre Beja e Funcheira. A CP – Comboios de Portugal justificou a decisão com números: a ligação tinha custos operacionais de cerca de 605 mil euros por ano e uma reduzida procura (em média quatro passageiros por comboio) que resultavam em receitas 16 mil euros por ano. “Atendendo à conjuntura atual, à imperiosa necessidade de redução de custos e aos significativos prejuízos decorrentes dos serviços em causa, não estão reunidas as condições para continuar a assegurar a exploração ferroviária”, afirmou então fonte da empresa ao “Correio Alentejo“.
Devido ao encerramento desta ligação, desde 2012 quem escolher o comboio para viajar entre Beja e Faro, tem apenas uma opção: uma viagem de cinco horas que implica três comboios e duas escalas, como é possível ver no Google Maps.
O Polígrafo consultou o site da CP e simulou a compra de bilhetes para esta sexta-feira, dia 3 de setembro. Há três viagens disponíveis: duas da parte da manhã que demoram cinco horas e uma viagem no período da tarde, um pouco mais “célere”, que dura pouco mais de quatro horas.
Caso optem, a título de exemplo, pela primeira opção, os passageiros saem de Beja às 6h23 e chegam a Faro às 11h23. A viagem em si demora pouco mais de três horas e meia, o tempo restante (hora e meia) corresponde ao tempo de espera nas duas escalas necessárias em Casa Branca e Pinhal Novo.
Em outubro de 2020, foi apresentado o Plano Nacional de Investimentos 2030 (PNI 2030) que prevê, entre outras, a modernização das linhas ferroviárias de Beja e Faro, incluindo a electrificação do troço da linha do Alentejo entre as estações de Casa Branca e de Beja, num projeto que prevê uma verba de 230 milhões de euros.
Já no troço de Beja até à Funcheira, de acordo com um estudo da gestora da rede ferroviária nacional, a IP, o investimento mínimo necessário é de 77 milhões de euros e prevê a modernização e eletrificação do troço, a supressão de todas as passagens de nível e a construção de pontos de cruzamento para circularem comboios de mercadorias com 750 metros de comprimento, a construção de uma variante de 4,1 quilómetros e uma renovação de 2,4 quilómetros de via junto a Ourique.
Caso a IP queira comboios mais rápidos, são necessários mais nove milhões de euros para os comboios poderem circular até 200 km/h no troço Beja-Funcheira, com a construção de mais 13 quilómetros de variantes e à vedação integral da linha.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
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Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
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