A denúncia surgiu na página de Facebook dedica à sátira "Movimento Humor". No dia 24 de fevereiro, um dos administradores publicou um cartoon no qual é retratada uma mulher a perguntar ao vereador da Câmara Municipal de Coimbra, Jorge Alves, também presidente do Conselho de Administração da empresa pública SMTUC - Transportes Urbanos de Coimbra, o seguinte: “Então, senhor Alves, é verdade que os GPS do Move-me e os hotspots dos autocarros já não funcionam?” À pergunta, a figura que caricatura Jorge Alves responde: “Já pedi ao meu filho e ao meu sobrinho para arranjarem… mas os rapazes andam ocupados com os contratos.”

O cartoon sugere, assim, que a empresa que tratou dos GPS e da rede Wi-Fi dos autocarros públicos de Coimbra não só é propriedade do filho do vereador Jorge Alves, como foi contratada pelo próprio, na medida em que faz parte do conselho de administração da empresa municipal., na qual entre 2013 e 2017, desempenhou funções como vogal e desde então como presidente.

Posto isto, será que é autêntico que o vereador socialista Jorge Alves contratou, por ajuste direto, a empresa do próprio filho para fornecer serviços aos Transportes Urbanos de Coimbra?

A resposta é positiva.

Em causa estão quatro contratos, todos por ajuste direito, celebrados nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019, relacionados com tecnologia a ser instalada em autocarros. O portal Base, a página onde a administração pública está obrigada a registar todos os negócios superiores a 5 mil euros, revela que os negócios no centro da polémica totalizam um valor de 215.464,00 euros, e foram fechados com a empresa STRA, SA. Pode consultá-los aqui.

O Polígrafo consultou o portal da Justiça, onde é possível confirmar que a sociedade contratada por Jorge Alves, a STRA, foi fundada em 2012 por Rui Maranhas Alves da Luz Sales, o gerente, e Ricardo Nuno Conde Margalho. A empresa começou por chamar-se Média Corp, LDA, mas em 2016, dois meses antes de ser assinado o primeiro contrato com os SMTUC - Transportes Urbanos de Coimbra, mudou de nome para STRA, uma sociedade limitada que, mais tarde, em 2018, deu lugar a uma sociedade anónima. Apesar das mudanças na empresa, Rui Maranhas Alves da Luz Sales e Ricardo Nuno Conde Margalho mantiveram-se, e mantêm-se, no Conselho de Administração, o primeiro como presidente, o segundo como vogal.

O Polígrafo teve acesso à certidão de nascimento do presidente e fundador da empresa, que confirma que, de facto, Rui Maranhas Alves da Luz Sales, de 33 anos, é filho de Jorge Manuel Maranhas Alves, o vereador da Câmara Municipal de Coimbra.

Sendo assim, é autêntico que Jorge Alves, vereador da Câmara de Coimbra e presidente do conselho de administração da empresa municipal SMTUC - Transportes Urbanos de Coimbra, deu luz verde a quatro contratos no valor de mais de 200 mil euros com uma empresa presidida pelo próprio filho, Rui Maranhas Alves da Luz Sales.

Em causa estão quatro contratos, todos por ajuste direito, celebrados nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019, relacionados com tecnologia a ser instalada em autocarros.

O Polígrafo enviou, na passada sexta-feira, dia 26, um pedido de esclarecimento ao Município de Coimbra. Manuel Machado, o presidente, prometeu responder à questões esta segunda-feira. Entretanto, Jorge Alves pediu a demissão dos cargos de vereador e de presidente do conselho de administração dos Transportes Urbanos de Coimbra.

Esta segunda-feira, 1 de março, em declarações ao Polígrafo, fonte oficial da Câmara Municipal de Coimbra garante que Manuel Machado só teve conhecimento destes negócios através da página de sátira «Movimento Humor», uma vez que os SMTUC são geridos sob forma empresarial, e têm um conselho de administração próprio, que toma decisões à margem do executivo municipal. “Tendo essa dúvida (sobre os contratos) sido suscitada, foram solicitados esclarecimentos”, garante a mesma fonte. 

O Polígrafo enviou, na última sexta-feira, um pedido de esclarecimento ao Município de Coimbra. Manuel Machado, o presidente, prometeu responder à questões esta segunda-feira. Entretanto, Jorge Alves pediu a demissão dos cargos de vereador e de presidente do conselho de administração dos Transportes Urbanos de Coimbra.

Pelo facto de Manuel Machado não ter considerado razoáveis as explicações de Jorge Alves, o autarca socialista retirou a confiança política ao vereador, que acabou por demitir-se ainda na sexta-feira. “O senhor presidente determinou a abertura de um processo interno de averiguações, com o objetivo de apurar eventuais irregularidades na atuação de Jorge Alves enquanto presidente do conselho de administração dos SMTUC”, revela ainda a mesma fonte oficial da autarquia.

Manuel Machado pondera, após serem conhecidas as conclusões do processo interno de averiguações, participar o caso ao Ministério Público.

O Polígrafo tentou contactar, sem sucesso, o agora ex-vereador Jorge Alves. Ao Notícias de Coimbra, que divulgou o seu afastamento, afirmou que as razões da saída são "meramente pessoais” e “de saúde”. Confrontado com a existência de contratos públicos da empresa do filho com os Serviços Municipalizados de Transportes de Coimbra (SMTUC), que dirigia até sexta feira, o ex-verador afirmou que “não comenta cartoons”.

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