Ao discursar ontem à noite (2 de março) num comício na Figueira da Foz, André Ventura denunciou uma suposta fraude eleitoral que consiste em dificultar ou mesmo “anular os votos” no Chega, com especial incidência nos círculos da emigração. “Está em curso uma tentativa de desvirtuar o resultado destas eleições em Portugal, e nós temos de estar muito atentos a isso”, alertou.
Referiu-se a “vídeos que circulam permanentemente” nas redes sociais “de pessoas a dizer que vão anular os votos do Chega e que vão condicionar os votos do Chega”, indicando mesmo que serão elementos do Bloco de Esquerda mobilizados para as mesas de voto. E disse que tem relatos de comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo de que há boletins de voto que “não chegaram” ou “parece que só chegam a alguns e não chegam aos outros”.
“Pelos consulados, dominados pelo PS e o PSD pelo mundo fora, ouvimos chegar notícias de tentativas verdadeiras de boicote ao voto”, afirmou, sublinhando depois que “esses emigrantes estão fartos de socialismo e social-democracia”.

Tais declarações de Ventura motivaram diversas reações nas redes sociais, nomeadamente de Ana Gomes, ex-eurodeputada e antiga candidata à Presidência da República, que considera serem uma “cópia rasca” dos “seus sinistros ídolos Trump e Bolsonaro“.
De facto, mesmo quando ganhou as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América (EUA) em 2016, Donald Trump denunciou que teriam ocorrido fraudes eleitorais em massa, com especial incidência na Califórnia, embora não apresentasse quaisquer provas.
Nas eleições presidenciais dos EUA em 2020, quando perdeu frente a Joe Biden do Partido Democrata, Trump insistiu nessas denúncias, logo na campanha eleitoral, chegando a dizer repetidamente que não iria aceitar os resultados eleitorais em caso de derrota.
Lançou suspeitas sobre o registo de eleitores, os membros das assembleias de voto, as máquinas de voto eletrónico e o processo de votação por correspondência. No contexto de múltiplas fake news e teorias de conspiração que foram sistematicamente difundidas nas redes sociais. E, perante os resultados oficiais que ditaram a sua derrota, Trump e respetivos aliados intensificaram tais acusações sem provas, resultando no ataque ao Capitólio dos EUA em janeiro de 2021 para impedir a validação dos resultados e a subsequente tomada de posse de Biden
Entretanto, nas eleições presidenciais do Brasil em 2022, assistiu-se a uma espécie de réplica da atuação de Trump. O recandidato à Presidência, Jair Bolsonaro, mimetizou quase todos os passos, desde os avisos de que não aceitaria os resultados eleitorais em caso de derrota (frente a Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores), até às suspeitas em torno do voto eletrónico e por correspondência, impulsionado por vagas de fake news e teorias de conspiração nas redes sociais.
Após a confirmação da derrota nas urnas de voto, Bolsonaro demorou a aceitar os resultados e insistiu nas denúncias (sem provas) de fraude eleitoral. Resultando no ataque às sedes dos “Três Poderes” na capital Brasília, em janeiro de 2023, com muitas similitudes em relação ao que tinha acontecido nos EUA dois anos antes.
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