- O que está em causa?Na sequência do ataque no Centro Ismaili, em Lisboa, que resultou na morte de duas mulheres, André Ventura e Hugo Soares estiveram em debate esta terça-feira à noite na CNN Portugal. Um dos temas principais foi a política de imigração, tendo Ventura acusado Hugo Soares de concordar consigo ao invés de estar de acordo com o líder do PSD. Tem razão?

No debate de terça-feira à noite, 28 de março, na CNN Portugal, André Ventura, líder do Chega, e Hugo Soares, vice-presidente do PSD, trocaram argumentos relativamente às políticas de imigração em Portugal. O confronto entre ambos aconteceu num dia que ficou marcado pelo ataque no Centro Ismaili, em Lisboa, em que um cidadão afegão matou duas mulheres portuguesas. A hipótese de ter sido um ato de terrorismo já foi descartada pela Polícia Judiciária e acredita-se que os crimes tenham ocorrido na sequência de "um surto psicótico".
No decorrer do debate, e ainda sem se saber teria sido um ataque terrorista (na terça-feira à noite essa hipótese ainda se colocava), Hugo Soares defendeu uma política de imigração regulada: “Alguém tem dúvidas de que é mais fácil integrar quem vem de um país que fale língua portuguesa do que de um país que não tem qualquer ligação com princípios culturais e valores de Portugal? Não estou a falar de refugiados. Este caso em concreto é de um refugiado que tem de ser condenado pelo crime hediondo que cometeu, mas é um refugiado e o André Ventura disse em 2015 que se devia abrir as portas aos refugiados. Não se pode dizer uma coisa onde parece que não há problema nenhum e depois se use a tragédia. É evidente que este programa de recrutamento visa precisamente procurarmos atrair para Portugal o melhor talento, aqueles que mais se identificam connosco”.
Por sua vez, Ventura disse concordar com isso e questionou se Soares concorda com o que este disse sobre os países com predominância de fundamentalismo islâmico. “É que o PSD anda sempre a dançar sem saber o que quer. Concorda ou não que países como o Paquistão, Afeganistão, Somália ou Egipto devam ter controlos especiais?”, perguntou o líder do Chega.
Em resposta, o vice-presidente social-democrata lembrou que “quem propôs isso no dia 18 de janeiro” foi o PSD. E Ventura acusa: “Então concorda? Isto é histórico porque o seu líder diz outra coisa”.
Será verdade?
A resposta é negativa.
Começando pela proposta do PSD referida por Soares, esta sugere a criação de um “programa nacional de atração destinado a implementar um conjunto de ações de atração, acolhimento e integração de imigrantes e talento com origem no estrangeiro ou no retorno de portugueses do estrangeiro.
O Projeto de Lei 480/XV/1 acabou por ser rejeitado com votos contra do PS, Chega e Bloco de Esquerda. O partido de André Ventura comparou o projeto de lei às propostas do BE. E a esquerda parlamentar condenou a proposta acusando o PSD de só querer imigrantes altamente qualificados.
Posto isto, o que defende Montenegro? Em declarações aos jornalistas na Mêda, Guarda, onde se deslocou no âmbito da iniciativa "Sentir Portugal” em fevereiro, o líder social-democrata afirmou o seguinte: "Nós devemos trazer mão de obra, devemos fazê-lo de forma regulada. Isto é, desde que perspetivamos as nossas necessidades de que o país tem de ser atrativo do ponto de vista das condições que dá até à garantia de coisas fundamentais como a habitação, o acesso à saúde, o acesso à educação”.
Mais: “Concordo que tem que haver regulação, mas nós temos que ser mais ousados. Temos que arriscar, procurar pelo mundo as comunidades que possam interagir melhor connosco, que se possam integrar melhor na nossa cultura, na nossa identidade, e que possam entrar, por via do mercado de trabalho e também por via da formação para ingressarem no mercado de trabalho mais tarde".
Ou seja, o líder social-democrata defende uma política de imigração regulada, mas na qual as comunidades que venham estejam mais próximas da “nossa cultura” e identidade - basicamente o mesmo que explicou Hugo Soares na sua intervenção na CNN Portugal.
O ónus não está diretamente relacionado com o facto de determinados países terem “predominância de fundamentalismo islâmico” como apontou Ventura, mas sim na captação de imigrantes que consigam integrar-se com mais facilidade na cultura do país.
