“Para quê estudar muito ou trabalhar se o cartão do PS vale muito mais do que tudo isso? O país precisa de uma limpeza total“. As palavras são de André Ventura, líder do partido Chega, e foram divulgadas a 9 de novembro no Twitter, a propósito da contratação de Tiago Cunha, de 21 anos, para o cargo de adjunto no gabinete da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, por uma remuneração que ronda os quatro mil euros brutos.
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Entretanto, no Facebook, há quem critique Ventura e o acuse de incoerência, já que o próprio escolheu para as listas de deputados quatro não-licenciados: “Criticar e fazer o mesmo? É fácil. Mais de 36% dos militantes do Chega escolhidos por André Ventura para serem deputados não têm licenciaturas e há até quem tenha apenas 24 anos e não tenha experiência profissional.”
Mais: “Há deputados que foram eleitos pelo Chega, que não têm licenciaturas, que estavam em lugares não elegíveis e André Ventura colocou-os em lugares elegíveis.”

Estas alegações confirmam-se através dos dados biográficos de cada deputado eleito pelo partido Chega nas últimas legislativas.
Entre os 11 deputados do Chega que se juntaram a Ventura em janeiro deste ano, Diogo Pacheco de Amorim é o mais velho, o mais experiente e o que tem mais História. Mas não só. Pacheco de Amorim tem também as habilitações literárias e a experiência que Ventura parece considerar necessárias para enfrentar o cargo de deputado: é licenciado em Filosofia e é consultor de profissão.
Quanto a Rui Paulo Sousa, o deputado do Chega parece ter mantido durante alguns meses no seu currículo uma licenciatura que não estava, afinal, completa. No seu perfil de “Linkedin“, o ex-Aliança inclui um “licentiate degree” em Economia e Gestão Empresarial, feito na Universidade Lusófona entre 2015 e 2020. Porém, no perfil que consta no portal do Parlamento, Rui Paulo Sousa assume ter apenas a “frequência de licenciatura em gestão de empresas“. Empresário de profissão, tem no seu passado o cargo de administrador de empresas.
Pedro Frazão é, além de deputado mais “fértil”, um dos que mais estudos terá concluído: além de ter ingressado em Biologia Marinha e Pescas na Universidade do Algarve, o supranumerário da Opus Dei licenciou-se em medicina veterinária e até fez um mestrado na mesma área, sendo essa a profissão que ainda hoje exerce.
Pedro Pessanha pode não lhe soar estranho: este eleito deputado do Chega já fez parte da política nacional, tendo sido presidente do núcleo de Cascais do CDS-PP. Em 2013, porém, Pedro Pessanha acabou por ser expulso do partido. Em termos de habilitações literárias, Pessanha licenciou-se em Gestão na Escola Superior de Actividades Imobiliárias e é “part owner” no PPGEST desde dezembro de 2019.
Única mulher e a mais nova deputada eleita pelo Chega nestas eleições legislativas, Rita Matias, licenciada em Ciência Política pelo ISCTE, chegou a deputada com apenas 23 anos. Agora, com 24, frequenta um mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais e tem como profissão declarada “gestora financeira”. Apesar disso, Matias não tem qualquer experiência profissional no seu currículo.
Ainda na fatia de licenciados surge Gabriel Mithá Ribeiro, membro de uma “minoria racial” que pretende inverter o debate sobre o racismo e o colonialismo. O deputado é licenciado em História, mestre e doutorado em Estudos Africanos, tem 58 anos, é a carta “intelectual” do Chega com que Ventura tem jogado em debates complexos frente a outras forças políticas. Professor de profissão, Mithá Ribeiro já esteve no PSD e, no Chega, já acusou saída.

Bancário, Rui Afonso estreou-se no Chega e na política em geral quando foi eleito deputado pelo círculo do Porto. Em matéria de habilitações literárias, este apoiante da castração química tem uma licenciatura em Relações Públicas, frequentou a licenciatura em Contabilidade e Administração de Empresas, tem um diploma de Estudos Avançados em Comercialização e Investigação de Mercados e frequência no doutoramento em Ciências Económicas e Empresariais.
Ao contrário do último deputado, Pedro Pinto, antigo empresário de Portalegre, que também foi jornalista em publicações ligadas à tauromaquia, como a revista “Ruedo Ibérico”, onde assumiu o cargo de diretor, não é licenciado. Frequentou a licenciatura em Gestão de Empresas, como destaca na biografia do Parlamento, mas não a concluiu, juntando-se assim a Rui Paulo Sousa e a Bruno Nunes.
Este último, que chegou a assumir o cargo de deputado independente em Loures pelo Partido Popular Monárquico (PPM), integrado numa coligação com o PSD, juntou-se a Ventura para erguer o “Basta” e, mais tarde, o “Chega”. É um dos alicerces do partido no concelho de Loures, mas tem apenas uma passagem pela licenciatura em Direito na antiga Universidade Moderna de Lisboa.
Por último, Jorge Valsassina Galveias, reformado e eleito deputado pelo círculo de Aveiro, tem apenas uma frequência na licenciatura em Marketing e Publicidade. A sua experiência profissional é pouco conhecida e, além de ser o presidente da Mesa do Conselho Nacional do Chega, não tem grande visibilidade dentro e fora do partido.
Em suma, quatro dos 12 deputados do Chega, eleitos em janeiro deste ano, não têm uma licenciatura completa. Ou seja, cerca de 33,3% (ou cerca de 36,4% se não contarmos com o próprio Ventura).
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Avaliação do Polígrafo: