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Ventura critica “mentalidade” de se “querer prender” adversários com quem não se concorda, mas já “tentou pôr várias pessoas em tribunal”? (Atualizado)

Política
O que está em causa?
Num debate com António Filipe, do PCP, transmitido pelo Now, a deputada liberal Mariana Leitão acusa André Ventura de também já ter tentado "pôr várias pessoas em tribunal", apesar de agora dizer que "não se vence os adversários políticos com argumentos".
© Agência Lusa / Manuel Fernando Araújo

Esta segunda-feira, numa entrevista dada ao Now, o presidente do Chega, André Ventura, referiu estar “preocupado” com a “mentalidade, que agora parece valer sempre, de que quando não se concorda com um adversário político quer-se prendê-lo”. Ventura falava  a propósito de ter havido, segundo a SIC Notícias, uma denúncia anónima que levou o Ministério Público a abrir uma investigação sobre a colocação, por parte do Chega, de tarjas nas janelas da Assembleia da República em protesto contra o descongelamento dos salários dos políticos aprovado no Parlamento.

“Parece que há uma lógica – e isso é que me preocupa em Portugal – de que não se vence os adversários políticos com argumentos, com debate, que é onde devem ser vencidos. Mas vence-se dizendo ‘cuidado, vais para a prisão‘”, afirmou o líder do Chega.

Poucas horas mais tarde, no programa “Frente a Frente” do mesmo canal de televisão, Mariana Leitão, deputada do Iniciativa Liberal, pronunciou-se sobre o assunto. “Eu relembro que André Ventura já tentou pôr várias pessoas em tribunal, e que inclusivamente a última situação, até muito caricata, era de que pedia ao senhor Primeiro-Ministro que o pusesse em tribunal para ele vir mostrar provas das ditas reuniões secretas”, lembrou a deputada liberal. Será verdade?

Em maio, por exemplo, o André Ventura anunciou que o seu partido proporia à Assembleia da República abrir um processo contra Marcelo Rebelo de Sousa por alegada traição à pátria depois de o Presidente da República ter afirmado que Portugal devia “pagar os custos” dos crimes coloniais. 

Foi criada uma comissão parlamentar especial que acabou por ditar que não havia “indícios de prática de crimes de traição à pátria, coação contra órgão Constitucional, ou similares” A proposta de abertura de um processo contra Marcelo acabou por ser rejeitada com votos contra de todos os grupos parlamentares à exceção do grupo do Chega. 

No mesmo mês, depois de Isabel Moreira ter afirmado que os deputados do Chega ofendiam e intimidavam deputadas na Assembleia da República, André Ventura avisou que o partido poderia, de acordo com a Lusa, “avançar com um procedimento judicial contra ela”, caso não apresentasse provas das acusações.

Em 2020, em comunicado, citado pela agência de notícias, o Chega anunciou que iria “avançar judicialmente contra o Primeiro-Ministro português” da altura, António Costa, devido ao facto de Costa “ter apelidado o partido de ´extrema-direita, xenófoba e racista’ e ‘o pior que existe na Europa'”.

Em 2022, quando Catarina Martins disse que “cada deputado racista eleito no Parlamento português” era “um deputado racista a mais”, André Ventura e os deputados do seu partido apresentaram três queixas por difamação contra a, na altura, coordenadora do Bloco de Esquerda, como noticiou o Público. As queixas acabaram por ser arquivadas pelo Ministério Público.

Por último, será que Ventura chegou a pedir ao Primeiro-Ministro “que o pusesse em tribunal para ele vir mostrar provas das ditas reuniões secretas”? Sim

Num tweet publicado a 13 de outubro, o líder do Chega escreveu: “Mas a verdade é que, no dia 23 de Setembro, quando saiu a informação de que eu estava reunido com o PM, e depois de me ter pedido para sair pelas traseiras, Montenegro tentou combinar comigo uma narrativa falsa para a imprensa sobre os motivos da reunião. No fundo, para se passar para a opinião pública uma falsidade sobre as razões do encontro, que eram obviamente relativas a um acordo para o OE”. Nas últimas linhas da publicação, acrescentou: “Desafio o PM a processar-me e, assim, poderei tornar públicas, no sitio certo, as provas sobre o que estou a dizer.”

Assim sendo, a afirmação da deputada liberal Mariana Leitão é verdadeira. Além dos casos em que Ventura tentou, efetivamente, pôr vários políticos em tribunal, o líder do Chega também ameaçou, noutras vezes, que o faria.

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Nota Editorial: A classificação foi alterada a 4 de dezembro, depois de o Polígrafo ter sido alertado para um segundo caso em que André Ventura, efetivamente, tentou por em tribunal um político. Neste caso, Catarina Martins.

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Avaliação do Polígrafo:

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