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Valor de “entrada” para comprar casa em Lisboa aumentou de 30 para 56 mil euros desde 2017?

Sociedade
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O que está em causa?
"Entre 2017 e 2022, o capital dado para entrada aumentou de cerca de 30 mil euros para 56 mil euros", destaca-se numa recente publicação no Facebook, em referência à aquisição de habitação de valor mediano no concelho de Lisboa. Esta alegação tem fundamento?

“O facto é que com tais preços a desejada racionalização da urbanização e aumento da densidade urbana é inaplicável. Ainda por cima numa fase em que a Área Metropolitana de Lisboa apresenta, tal como outras zonas urbanas, um número de habitações devolutas elevadíssimo (perto de 7.500 fracções devolutas apenas para a cidade de Lisboa)”, argumenta-se numa publicação de 3 de agosto no Facebook.

Os “tais preços” que terão aumentado substancialmente nos últimos seis anos: de acordo com o autor da publicação, “entre 2017 e 2022, o capital dado para entrada aumentou de cerca de 30 mil euros para 56 mil euros“.

Refere-se à aquisição de habitação de valor mediano no concelho de Lisboa, exibindo depois um gráfico com dados – precisamente – sobre o “percentil mínimo de rendimento necessário para aquisição de habitação de valor mediano”, numa comparação entre o 2.º trimestre de 2017 e o 2.º trimestre de 2022.

A alegação sobre o aumento de 30 para 56 mil euros tem fundamento?

Sim. É uma das principais conclusões de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, intitulado como “A crise da habitação nas grandes cidades – uma análise” (pode consultar aqui), da autoria de Paulo M. Rodrigues (coordenador), Rita Fradique Lourenço e Hugo de Almeida Vilares. Foi apresentado no dia 27 de julho de 2023.

“O capital inicial que é necessário dar de ‘entrada’ aumentou (para a casa mediana) de cerca de 30 mil para 56 mil euros no concelho de Lisboa, e de cerca de 16 mil para 37 mil euros no concelho do Porto, entre 2017 e 2022″, informa-se no estudo.

“Recorrendo aos inquéritos de rendimentos e preços da habitação ao nível local do INE [Instituto Nacional de Estatística] e simulando o empréstimo à habitação referido, verificamos que um agregado familiar de dois sujeitos ativos viu os requisitos de rendimento aumentarem substancialmente entre 2017 e 2022, para respeitar a regra macroprudencial bancária de alocar no máximo 40% do seu rendimento a despesas de habitação”, sublinha-se.

“Hoje, para que este agregado-tipo, com dois indivíduos no ativo, consiga adquirir um alojamento mediano na freguesia mais barata de Lisboa ou do Porto, é necessário que as duas pessoas atinjam pelo menos o percentil 60 da distribuição de rendimentos dessa zona geográfica, quando em 2017 isso era acessível a um agregado no percentil 40 em Lisboa ou 20 no Porto”, apurou-se na análise.

“Além deste requisito, o capital inicial que é necessário dar de ‘entrada’, mesmo nos casos em que a avaliação bancária coincide com o valor de transação, aumentou para a casa mediana de cerca de 30 mil para 56 mil euros no concelho de Lisboa, e de cerca de 16 mil para 37 mil euros no concelho do Porto, entre 2017 e 2022. Este fenómeno tem ainda maior expressão quando analisamos as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, onde é notório o agravamento das condições necessárias para aquisição de habitação mediana em todos os concelhos”, realça-se.

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Avaliação do Polígrafo:

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