Se o caso, na Internet, trata animais, crianças, ou questões relacionadas com saúde, é certo que, mais minuto menos minuto, torna-se viral. Desta vez, não foi diferente: várias publicações nas redes sociais, que são acompanhadas por um vídeo, alegam que um médico diz que a vacina para o H1N1, vírus mais conhecido como gripe A, destrói a imunidade e causa cancro. Um dos postsque corre, sobretudo no Facebook, diz: «Urgente. Médico faz grave alerta, vacina H1N1destrói a imunidade e dá cancro».
Porém, aquilo que se dá como adquirido agora, daqui a pouco já pode ser bastante diferente. É que outra publicação, vista praticamente 20 mil vezes, apresenta uma versão distinta dos factos: «Urgente! Terapeuta naturista (Jaime Bruning) faz grave alerta, vacina H1N1 destrói a imunidade e dá cancro. Será possível? Muitos pensam que Jaime Burning é médico, porém ele mesmo não se considera médico e diz que é apenas um terapeuta naturista, clique no linkdo canal dele e você vai vê-lo a defender-se, a falar que nãoé médico, realmente fala sobre essa vacina H1N1, mas não se considera um médico».
[facebook url=”https://www.facebook.com/watch/?v=514640295736690″/]
É caso para dizer: entre uma publicação e a outra não bate a bota com a perdigota. Afinal de contas, o senhor é médico ou apenas terapeuta? Para além desta incongruência, é relevante referir que os textos que acompanham o vídeo têm todos os sintomas daquilo que se pode diagnosticar como uma notícia falsa. São vagos, alarmistas, têm erros de português e não citam fontes credíveis.
Na realidade, as suspeitas parecem confirmar-se. De acordo com o site de verificação de factos Boatos.org, o homem não é médico, informação que já foi desmentida no canal pessoal do YouTube: Jaime Bruning éterapeuta. Ainda assim, no vídeo, afirma, de facto, que «as vacinas é outra coisa em que temos de tomar o máximo de cuidado». Bruning argumenta que a vacinação pode ser um grande perigo, porque é um esquema mundial, preparado a partir dos Estados Unidos, para reduzir a população. O homem garante que a trama tem como objetivo diminuir a humanidade dos mais de 7 mil milhões de pessoas, atualmente, para apenas 900 milhões. Depois, fala em caixões e autocarros para levar os mortos, «um campo de concentração de prontidão», pior do que aquilo que Hitler fez na Alemanha.
A história já parece patética por si. Porém, quando o homem fala em caixões e e campos de concentração, o ridículo atinge outro patamar, e não pela primeira vez. O Boatos.orgrevela também que já tinha, no passado, desmentido este vídeo, e que a questão das urnas já tem praticamente 30 anos. Em 1990 um boato afirmava que a Agência Federal dos Estados Unidos tinha encomendado caixões para promover um extermínio em massa. Claro que a história nunca passou de uma farsa. E agora parece não ser diferente.
Adiante no clipe, Jaime Bruning diz que uma das medida para concretizar esse plano maquiavélico de praticamente acabar com os habitantes da terra inclui «obrigar a população a comer alimentos transgénicos, a beber água com flúor e a vacinar a população (…) Nas vacinas estão a colocar vírus do cancro, fungos do cancro», referindo-se logo depois, em particular, à vacina contra a gripe A. É um facto: estas palavras ultrapassam qualquer limite do bom senso. Bem se sabe que o cancro nãoé um vírus, muito menos é causado por fungos. É certo que 25% da população portuguesa está em risco de desenvolver uma doença oncológica, segundo a Agência Internacional para a Investigação do Cancro, mas também é certo que a percentagem de população vacinada é muito maior, pelo que não faria sentido existir uma disparidade tão grande entre o número de vacinados e o número de pessoas em risco de desenvolver cancro, caso fossem colocados agentes cancerígenos nas vacinas.
Por fim, importa salientar que as vacinas não destroem a imunidade, pelo contrário, fortalecem o sistema, de maneira a ajudar o organismo a responder a casos de infeção por anticorpos.
Conclusão da história: não vale a pena ficar-se alarmado ou inquieto, muito menos partilhar o vídeo, é que, neste episódio, tudo é uma perda de tempo, pois nada corresponde à verdade.
Avaliação do Polígrafo: