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Vacina chinesa contra o novo coronavírus matou mais de dois mil voluntários?

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Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Nas críticas propagadas pelo Facebook à decisão do governador do estado de São Paulo, no Brasil, de tornar obrigatória a vacinação contra o SARS-CoV-2 alega-se ainda que a vacina da Sinovac deixou um jovem tetraplégico e que esta “é a primeira da história” a alterar o ADN. Verdade ou falsidade?

“Doria impõe a obrigatoriedade das vacinas para a Covid-19 a todos os cidadãos do estado de São Paulo. Uma vacina da qual não sabemos os seus efeitos colaterais: em Inglaterra, um jovem está tetraplégico, na China dizem que houve 2034 mortes de cobaias [ndr: voluntários] por efeitos adversos. Essa será a primeira vacina da história da humanidade a mexer com o nosso ADN”, garante-se na mensagem que disseminada no Facebook.

Doria vacina

A publicação é acompanhada por uma imagem do governador de São Paulo, João Dória, apresentado como um “pequeno ditador”. A montagem inspira-se numa cena do filme “O Grande Ditador” de Charles Chaplin, uma sátira a Hitler e ao nazismo.

Confirma-se que a vacina desenvolvida pela Sinovac matou mais de dois mil voluntários e altera o ADN de quem a tomar?

A CoronaVac, desenvolvida pela biofarmacêutica chinesa Sinovac, uma das 48 vacinas atualmente em ensaios clínicos, teve as duas primeiras fases de testes realizadas na China. Ao contrário do que é avançado na publicação em análise, como explica a plataforma de fact-checking brasileira “Agência Lupa“, não ocorreram ensaios clínicos em Inglaterra, sendo por isso falso que um jovem britânico ficou tetraplégico durante o processo. A terceira fase de ensaios está a ser realizada na Turquia, na Indonésia e no Brasil. Os testes neste último país resultam de uma parceria que envolveu a empresa que produziu a vacina e o Instituto Butantan, entidade de pesquisa e desenvolvimento científico brasileira ligado à estrutura do governo regional do estado de São Paulo.

É igualmente falso que 2034 voluntários tenham morrido devido à incubação da vacina. A 17 de novembro, a revista científica “The Lancet”, com base num estudo preliminar, anunciou que “a vacina pareceu ser segura e bem tolerada em todas as doses testadas. O efeito colateral mais relatado foi dor no local da injecção”. Os ensaios clínicos da primeira e da segunda fase envolveram mais de 700 voluntários saudáveis, com idades entre os 18 e os 59 anos – recrutados na China entre 16 de abril e 5 de maio.

A resposta imunológica ocorreu num intervalo de 28 dias após a primeira dose da vacina, tendo sido necessária uma segunda injeção 14 dias após a primeira toma. Ainda assim, os investigadores assumem que a fase 3 é fundamental para “determinar a eficácia protetora da CoronaVac”. 

A vacina desenvolvida pela biofarmacêutica chinesa Sinovac também não provoca qualquer alteração no ADN: a empresa usa uma técnica antiga que passa pela utilização do próprio vírus inativo para induzir o corpo a uma resposta contra a SARS-Cov-2. 

Ainda que traga segurança por ser um método conhecido, esta técnica envolve um custo mais elevado e exige um maior esforço logístico: o vírus é cultivado em laboratório em grande escala e depois inativado através de vários processos químicos, uma fase que serve para garantir que não irá infetar quem recebe a dose.  O processo implica ainda que seja adicionado um composto à base de alumínio na vacina, com o objetivo de combater os problemas criados pelos químicos de inativação que reduzem a capacidade de induzir uma resposta no corpo do hospedeiro. 

No início de junho, num artigo publicado na revista “Nature”, especialistas explicaram que este composto ajuda a alertar o organismo sobre o vírus invasor e a provocar a produção de altos níveis de anticorpos. 

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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