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União Europeia quer eliminar todos os campos de relva artificial até 2030?

União Europeia
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
A dúvida instalou-se nas redes sociais após a União Europeia ter anunciado, no passado dia 25 de setembro, uma série de medidas para reduzir o uso de microplásticos nos vários Estados-membros, devido ao seu impacto nefasto sobre o ambiente. Mas será que a Comissão Europeia estabeleceu mesmo um prazo de oito anos para o desaparecimento dos campos de relva artificial?

“A nossa surpresa foi enorme quando soubemos que Espanha tem um prazo de oito anos para eliminar os campos de relva artificial”. A frase faz parte da legenda de uma publicação partilhada na rede social Facebook por uma página filiada ao espanhol PP (Partido Popular), na sequência de uma alegada decisão tomada por parte da Comissão Europeia.

A reação surge acompanhada do que se dizem imagens de notícias da imprensa nacional, onde se lê: “O fim dos campos de relva artificial: A Comissão Europeia dá oito anos para que desapareçam”. Mas será mesmo assim?

De facto, o que aqui se alega chegou a ser noticiado por meios de comunicação social espanhóis, mas com claras imprecisões. Isto porque a regulamentação europeia publicada no passado dia 25 de setembro explica que a restrição aplica-se ao “enchimento granular para utilização em superfícies desportivas sintéticas” – pelo facto de incluir microplásticos nas sua composição -, e não ao relvado no seu todo, lê-se no ponto 53 do documento.

Num explicador sobre o tema, divulgado pela Comissão Europeia na sua página oficial, explica-se que a “proibição” aqui prevista “aplica-se após oito anos” após a entrada em vigor da mesma, “para dar aos proprietários e gestores de campos o tempo necessário para adotarem soluções alternativas e permitir que a maioria dos campos desportivos existentes atinja o seu fim de vida”.

A plataforma de verificação de factos espanhola “Newtral”, que trabalhou primeiramente o tema, contactou Ana Martínez Sanjurjo, porta-voz da Comissão Europeia para o Mercado Interno e a Indústria. “Apenas as superfícies que contêm material de enchimento granular contendo microplásticos são afetadas pela restrição. Além disso, os campos desportivos que já existam no final do período de oito anos – mesmo que contenham microplásticos – não precisam de ser removidos”, esclareceu a mesma fonte.

Ao mesmo meio de comunicação social, Salvador Navarro, que faz parte de uma empresa que trabalha para desenvolver relvados artificiais sustentáveis, a Green World Compounding, explicou que esse enchimento proibido pela União Europeia – feito a partir da borracha de pneus que já ultrapassaram a sua vida útil – faz parte de quase todas estas superfícies. Pelo que será necessário promover uma transição generalizada para modos de fabrico ambientalmente mais responsáveis, que também já existem.

Concluindo, não podemos dizer que a União Europeia quer eliminar todos os campos de relva artificial até 2030, quando o que se pretende é proibir o uso do tal “enchimento granular” à base de microplásticos no processo de fabrico dos mesmos.

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UE

Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “EUROPA”. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar.

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Avaliação do Polígrafo: 

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