O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Um vice-presidente do Chega escreveu artigo sobre “Hitler e Mussolini amordaçados pela ditadura mental”?

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
"Hitler e Mussolini amordaçados pela ditadura mental dos grandes manipuladores. O regresso do nacionalismo". Este é o título de um suposto artigo cuja autoria é atribuída a Gabriel Mithá Ribeiro, vice-presidente do partido Chega, em publicação no Facebook que foi denunciada como sendo "fake news". Confirma-se?

“Mais um artigo da série: o Chega não é fascista, nem tem simpatias pelos nazis. O autor do texto é Gabriel Mithá Ribeiro, vice-presidente de André Ventura, investigador do ISCTE e cronista do ‘Observador'”, destaca-se na mensagem da publicação em causa, apresentando depois hiperligações para o artigo (publicado na página oficial do partido Chega) e para o perfil do autor no âmbito da sua atividade como investigador no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

Um vice-presidente do Chega escreveu artigo sobre “Hitler e Mussolini amordaçados pela ditadura mental”?

Sim, mas a forma como esta informação é assim apresentada, sem contexto, pode induzir em erro.

Neste caso, o contexto passa por ler o artigo (acessível por aqui), ou mais corretamente a segunda parte de um artigo em que o autor, Gabriel Mithá Ribeiro, um dos vice-presidentes do partido Chega, defende as virtudes do “nacionalismo”, traduzindo-se por exemplo na ideia de que “rejeitar liminarmente o antinacionalismo ou globalismo antifronteiras constitui um dever da cidadania responsável num momento em que a desregulação da imigração extraeuropeia há muito fez soar os alarmes por toda a Europa Ocidental. No entanto, a única forma de autodefesa dos povos, o seu nacionalismo, continua deslegitimada por um conluio de elites antinacionais que agrega académicos, intelectuais, jornalistas, políticos, artistas, sindicalistas, por aí adiante”.

Na perspetiva de Mithá Ribeiro, “a sensibilidade nacionalista das pessoas comuns não pode continuar a ser ignorada, humilhada, desrespeitada, tratada como uma doença civilizacional dos portugueses, dos povos europeus e demais povos do mundo ocidental, como os brasileiros ou norte-americanos. Tal conjunto de nacionalidades deve compreender que o equilíbrio mental coletivo das suas sociedades foi colocado em causa por uma gestão fortemente enviesada da memória social organizada em torno do nacionalismo fascista, simbolizado em Benito Mussolini, e do nacionalismo nazi, de Adolf Hitler. Não está em causa o julgamento condenatório desses regimes, porém nem o maior crápula do planeta pode ser sequestrado pela manipulação e pela mentira, antes confrontado com a verdade e com o sentido de justiça em nome da liberdade“.

Ou seja, ao sublinhar que “não está em causa o julgamento condenatório desses regimes”, parece ser legítimo concluir que não se trata de uma apologia dos regimes de Mussolini e Hitler, ou pelo menos de forma assumida. Lendo o artigo na sua totalidade verifica-se que o autor, no essencial, lamenta que a “memória social” em torno dos regimes de Mussolini e Hitler tenha como que lançado um anátema sobre as ideias “nacionalistas”, não forçosamente impregnadas de princípios fascistas e/ou nazistas.

Essa interpretação torna-se mais clara num dos últimos parágrafos do artigo que também passamos a transcrever: “As disfuncionalidades das sociedades e do mundo residem sempre na orientação moral dos regimes vigentes, nunca nas seculares tradições nacionais. Trocar o essencial pelo acessório é próprio de ignorantes ou, bem pior, de manipuladores mentais, arte em que a esquerda é exímia. Daí que a justíssima condenação do fascismo e do nazismo, de Mussolini e de Hitlerque o Chega nunca deixará de o fazer -, tenha de remeter para o falhanço moral desses regimes. É apenas esse falhanço que está em causa e jamais o falhanço do ideal nacionalista, pela mesma razão que um pai homicida não torna o ideal de família genocida”.

Na medida em que a publicação sob análise indica uma hiperligação para o artigo em causa, optamos pela classificação de “verdadeiro, mas”, pois a leitura do mesmo (o contexto) está facilmente acessível.

Não é a primeira vez que Mithá Ribeiro protagoniza uma verificação de factos do Polígrafo. Em novembro de 2019, quando ainda não tinha sido eleito como vice-presidente do Chega, publicou um livro (intitulado como “Um Século de Escombros – Pensar o futuro com os valores morais da Direita”) que dedicou “a Donald Trump, Jair Bolsonaro, Nova Direita Europeia e Povo de Israel”.

__________________________________________

Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Com o objetivo de dar aos mais novos as ferramentas necessárias para desmontar a desinformação que prolifera nas redes sociais que mais consomem, o Polígrafo realizou uma palestra sobre o que é "o fact-checking" e deu a conhecer o trabalho de um "fact-checker". A ação para combater a desinformação pretendia empoderar estes alunos de 9.º ano para questionarem os conteúdos que consomem "online". ...
Após as eleições, o líder do Chega tem insistido todos os dias na exigência de um acordo de Governo com o PSD. O mesmo partido que - segundo disse Ventura antes das eleições - não propõe nada para combater a corrupção, é uma "espécie de prostituta política", nunca baixou o IRC, está repleto de "aldrabões" e "burlões" e "parece a ressurreição daqueles que já morreram". Ventura também disse que Montenegro é um "copião" e "não está bem para liderar a direita". Recuando mais no tempo, prometeu até que o Chega "não fará parte de nenhum Governo que não promova a prisão perpétua". ...

Fact checks mais recentes

Um vídeo partilhado viralmente nas redes sociais mostra Lula da Silva a afirmar que existem 735 milhões de pessoas que passam fome e garante-se que estava a referir-se exclusivamente ao Brasil. As imagens e declarações são autênticas, recolhidas a partir de uma recente entrevista do Presidente do Brasil ao canal SBT News. Mas referia-se mesmo ao Brasil que, na realidade, tem 3,4 vezes menos habitantes? ...
Horas depois de ter ajudado à morte antecipada da eleição de José Pedro Aguiar-Branco à presidência da Assembleia da República, o líder do CDS-PP nega agora ter sido um dos principais intervenientes. Nuno Melo garante ter falado em causa própria quando disse que "não havia acordo" com o Chega, mas não é isso que mostra a conversa que teve com a SIC Notícias durante a tarde de ontem. ...