“A extrema imprensa nos EUA, replicada no Brasil, disse que [Donald] Trump ‘antecipou que haverá um banho de sangue (literalmente) caso não vença as eleições'”, começa por se apontar num tweet de 17 março, na sequência de um discurso proferido no dia anterior pelo ex-Presidente dos EUA, no Ohio.
O tweet criticava publicações de jornais e utilizadores anónimos da rede X/Twitter que, na sequência de um discurso do candidato republicano à presidência dos EUA, disseminaram a informação segundo a qual o candidato republicano é um perigo para o país.
Ora, de acordo com o autor do tweet, trata-se de uma “mentira”, pois “quem assistiu” ao discurso “vê que ele fala claramente sobre a taxação de carros importados nos EUA”.
Confirma-se que a referida citação de Trump está a ser descontextualizada?
A publicação em causa exibe um clip de vídeo com uma parte do discurso de Trump, recandidato à Presidente dos EUA em 2024. Nessa parte, de facto, referia-se à indústria automóvel nos EUA. “Num período de 30 anos, 34% do negócio de produção de automóveis no nosso país, pensem nisso, foi para o México. A China, agora, está a construir algumas fábricas enormes, onde vão construir os carros, no México. E vejam, eles acham que vão vender esses carros para os Estados Unidos sem nenhum imposto na fronteira“, ouve-se Trump dizer.
Afirmou também que o Presidente da China, Xi Jinping, “entende o modo” como ele próprio lida “com essas grandes e monstruosas fábricas de automóveis que estão a construir no México”, sem recurso à contratação de norte-americanos. E terá deixado um aviso: “Não, vamos impor uma tarifa de 100% sobre cada carro que cruzar a linha de produção e vocês não poderão vender esses carros. Caso eu seja eleito. Agora, se eu não for eleito, será um banho de sangue para todos. Isso será o mínimo. Será um banho de sangue para o país.”
Consultando a versão integral do discurso de Trump, divulgado pela cadeia de televisão norte-americana C-SPAN, verifica-se que a alusão a “um banho de sangue” foi associada aos problemas da indústria automóvel nos EUA. Atente-se na transcrição das declarações em causa:
“Mas se olharmos para o [sindicato] United Auto Workers, o que fizeram aos seus trabalhadores é horrível. Querem fazer este disparate de carros totalmente elétricos em que os carros não vão longe. São demasiado caros. E são todos fabricados na China. E o líder da United Auto Workers nunca deve ter apertado a mão a um republicano antes de estarem a destruir – sabem, o México ficou com, durante um período de 30 anos, 34% do negócio de fabrico de automóveis no nosso país, pensem nisso, foi para o México.
A China está agora a construir umas fábricas enormes, onde vai construir os carros no México e… pensa que vai vender esses carros nos Estados Unidos sem impostos na fronteira. Deixem-me dizer-vos uma coisa em relação à China. Se está a ouvir, Senhor Presidente Xi, e nós somos amigos, mas ele compreende a minha forma de lidar com essas grandes e monstruosas fábricas de automóveis que estão a construir no México neste momento, e pensam que vão conseguir isso, que não vão contratar americanos e que nos vão vender os carros. Não, vamos impor uma tarifa de 100% a todos os carros que atravessarem a linha de demarcação, e não vão poder vender esses carros.
Se eu for eleito. Agora, se eu não for eleito, vai ser um banho de sangue para toda a gente, isso vai ser o mínimo. Vai ser um banho de sangue para o país. Isso será o mínimo. Mas eles não vão vender esses carros.”
Aliás, apesar de nem sempre destacarem essa informação nos títulos dos seus artigos referentes a estas declarações de Trump, vários meios de comunicação social norte-americanos – como a Associated Press, “The New York Times” e ABC – indicam que tais palavras foram proferidas no contexto de um discurso sobre a economia dos EUA e a respetiva indústria automóvel.
Uma tese entretanto sustentada por Steven Cheung, porta-voz da campanha eleitoral de Trump, citado pela Associated Press, que explicou que o ex-Presidente dos EUA fazia referência ao impacto na indústria automóvel que teria um eventual segundo mandato de Joe Biden na Casa Branca.
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