É já certo que quando falamos de declarações públicas do presidente dos Estados Unidos tudo é possível. Ao longo dos cerca de dois anos e meio de mandato que já cumpriu, Donald Trump tem vindo a afirmar o que nenhum outro presidente norte-americano alguma vez afirmou, reinventando por completo os cânones restritos de diplomacia pelos quais se habitualmente se regem as relações entre as instituições e as nações de uma forma geral.
Também é verdade que, fruto dos seus excessos, Trump é um alvo fácil das redes sociais, que vulgarmente o ridicularizam, manipulam ou deturpam as suas intervenções. A 30 de janeiro passado, várias páginas nas redes sociais atribuíram a seguinte citação ao líder americano: “Eu consigo fazer o meu trabalho sem nenhum serviço de inteligência.” A citação, que é grave, não surge do nada: não é inédito que Trump critique os serviços secretos, que já qualificou “passivos e ingénuos”, nomeadamente quando estes não se mostraram totalmente alinhados com as suas posições extremistas em relação ao perigo para o mundo que, na sua opinião, representam países como o Irão, o Afeganistão, a Coreia do Norte e o Estado Islâmico, como noticiou o jornal The New York Times.
Mas terá o presidente americano proferido mesmo a afirmação que embaraça os serviços de inteligência? A resposta é negativa, como revelou o site americano de fact-checking Snopes. É certo que já foram publicadas notícias que davam conta da aversão que Trump exibe relativamente aos relatórios dos serviços secretos – terá chegado a exigir que os memorandos que lhe chegam só tenham uma página. Porém, apesar de a citação em causa existir, ela tem origem numa famosa secção satírica da revista The New Yorker, chamada Borowitz Report, da autoria de Andy Borowitz.
Borowitz tem grande potencial viral e suas colunas são muito partilhadas, frequentemente sem que seja sublinhado que se trata de sátiras – o que, por vezes, é susceptível de gerar fenómenos massivos de desinformação. Por exemplo, em 2016, veiculou a informação segundo a qual na reunião do G20 o ex-presidente norte-americano, Barack Obama, teria chamado “palhaço” ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, o que viria a revelar-se uma falsidade (mais uma…) ancorada numa coluna de opinião de Borowitz escrita em 2013.
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