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Torres de vigia na praia de Carcavelos “custaram 350 mil euros” e já “foram levadas pelo mar”?

Política
O que está em causa?
Apenas "um mês depois de serem construídas", numa "obra ridícula e inútil feita pela 'empresa amiga' de Cascais", sublinha o denunciante da situação no X/Twitter, concluindo: "É sinal que a corrupção em Cascais está ao rubro!"

Alô Polícia Judiciária… Eu sugiro irem até à Câmara Municipal de Cascais para investigar Carlos Carreiras e um tal de Mauro Alexandre Cotrim”, insta-se num tweet de 18 de março. Em causa estão as torres de vigia na praia de Carcavelos que terão sido “levadas pelo mar“, apenas “um mês depois de serem construídas!”

O autor da denúncia exibe um clip de vídeo em que parece ver-se uma dessas torres de vigia a ser derrubada pela força das ondas e depois arrastada para o mar.

A estrutura terá sido orçada em 350 mil euros no “Orçamento Participativo – 2021” da Câmara Municipal de Cascais, sublinha.

Noutro segmento da publicação aponta para “a incompetência destes artistas de Cascais e o desperdício de dinheiro público” neste projeto denominado como “De Olho no Mar”, na medida em que optaram por torres de vigia em madeira, “instaladas em fevereiro de 2025”.

Posto isto, conclui: “Obra ridícula e inútil feita pela ‘empresa amiga’ de Cascais, é sinal que a corrupção em Cascais está ao rubro!”

Dois dias depois, após a passagem da “Tempestade Martinho” por Portugal que causou danos significativos nas zonas costeiras, o deputado António Pinto Pereira, do Chega, partilhou o mesmo vídeo no X/Twitter e também lançou críticas à gestão da Câmara Municipal de Cascais.

“Como se atiram ao mar mais de 100 mil euros (dos contribuintes) com projetos irresponsáveis e pouco sérios! Este foi o rápido destino do ‘Posto de Vigia n.º 1’, na praia de Carcavelos, inaugurado com pompa pelo Presidente da Câmara de Cascais há exatamente 12 dias”, escreveu Pinto Pereira.

A história das torres de vigia da praia de Carcavelos está a ser bem contada?

Desde logo importa notar as diferentes versões dos tweets de 18 de março – antes da “Tempestade Martinho”, torres de vigia no plural, valor de 350 mil euros – e de 20 de março – depois da “Tempestade Martinho”, apenas uma torre de vigia, valor de “mais de 100 mil euros”.

Ambas estão muito distantes da realidade.

Em resposta ao Polígrafo, a Câmara Municipal de Cascais (CMC) explica que “o projeto em causa é um projeto vencedor do Orçamento Participativo de 2021 que previa a colocação de nove torres de vigia em quatro praias do concelho: Carcavelos, Conceição, Guincho e Crismina. Foram escolhidas estas praias porque as duas primeiras (Carcavelos e Conceição) têm vigilância balnear durante todo o ano, as duas últimas (Guincho e Crismina) porque têm forte procura para prática desportiva. O objectivo destas torres é facilitar o trabalho de vigilância dos nadadores-salvadores e dar, simultaneamente, mais segurança à população”.

A situação retratada no vídeo em causa ocorreu no dia 17 de março e, segundo a CMC, “deveu-se ao facto de forte descarga de águas pluviais, conjugada com as terríveis condições do mar, ter arrastado uma torre secundária, das pequenas”.

A CMC garante que “tudo fez para tentar evitar esta situação, mas a intempérie que tem assolado o território, particularmente as zonas costeiras, não tem dado tréguas”.

De qualquer modo, as restantes três torres de vigia da praia de Carcavelos resistiram à intempérie e, mesmo após o impacto da “Tempestade Martinho”, permanecem no local. A CMC disponibilizou fotografias recentes que comprovam esse facto.

 

Quanto aos valores em causa, a adjudicação do projeto tinha um valor global de cerca de 218 mil euros. Mas a torre secundária que foi arrastada pelo mar – naquele momento retratado no vídeo – custou 7.976 euros. A CMC apresentou as notas de encomenda que comprovam esses valores.

“Salientamos que os projetos do Orçamento Participativo têm um tecto máximo de 350 mil euros. Talvez por isso os 7.976 euros se transformaram nas redes sociais em 350 mil euros”, conclui a CMC na resposta ao Polígrafo, em tom irónico.

Em conclusão, apenas uma das quatro torres de vigia da praia de Carcavelos foi arrastada pelo mar e destruída. A situação ocorreu no dia 17 de março, antes da “Tempestade Martinho”. Essa torre custou 7.976 euros à autarquia de Cascais e não 350 mil euros (ou “mais de 100 mil euros”) como se alega erradamente nas redes sociais.

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Avaliação do Polígrafo:

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