A escassos 5 meses e 4 dias do suicídio, Kurt Cobain e os seus companheiros nos Nirvana gravaram uma sessão acústica para a série MTV Unplugged. Um concerto intimista, tocado apenas com instrumentos acústicos, especial em si mas ainda mais especial por se tratar de Cobain. Um personalidade complexa, atormentada, inconstante, genial – e prestes encostar uma espingarda à cabeça.
À genialidade da atuação, juntava-se uma estranha sensação, inconsciente, do fim inevitável, o indisfarçável turbilhão de sentimentos e a visão de um homem prestes a desistir de tudo. Mas mesmo à beira do fim, ainda foi capaz de conquistar – e que conquista! – uma audiência privilegiada, num primeiro momento (o da gravação), e outra, planetária, que não mais parou de ouvir este disco – e/ou de “ouver” o DVD – desde a primeira audição.
Entre as 14 canções que chegaram ao CD está “The Man Who Sold The World”. É uma das melhores do alinhamento. Esta classificação é, todavia, válida para qualquer uma das restantes 13 interpretações…
Dos 14 temas do disco, existem 6 que não foram escritos por Cobain ou os Nirvana. “The Man Who Sold The World” é um desses casos.
Os fãs incondicionais de David Bowie – em especial os que conhecem melhor a sua discografia -, e aqueles que estão nas faixa dos 40 anos, conseguirão apontá-lo como autor canção. Contudo, os mais jovens terão, muito provavelmente, tido o seu primeiro contacto com o tema através da versão gravada pelos Nirvana para a série MTV Unplugged.
David Bowie, que nos deixou há pouco mais de 3 anos, escreveu e gravou esta canção em 1970, para o seu terceiro disco de originais com o mesmo nome, “The Man Who Sold The World”. Um tema regravado várias vezes por diversos artistas, sendo a versão de Lulu, de 1974 – e com Bowie no saxofone – foi uma das que conseguiu êxito assinalável. A canção só regressaria à ribalta 20 anos depois, com os Nirvana, um dos nomes maiores do movimento grunge – que tem nas suas raízes sonoras o punk e o hard rock – nascido em Seattle, na costa oeste dos EUA.
A versão dos Nirvana é muito fiel à original mas tem uma dimensão ainda mais intimista que resulta da gravação acústica num espaço confinado com uma ausência reduzida, mas, especialmente, da voz, da personalidade e da interpretação de Kurt Cobain, que lutou até ao último momento com a MTV, para garantir, primeiro, um estilo acústico que queria diferente do que tinha visto até então – as bandas, na sua opinião, apenas reproduziam os seus temas de forma acústica e tocavam-os como se estivessem a fazê-lo para uma audiência de estádio.
Cobain também fez questão de ter em cena membros da banda Meat Puppets, que tinham acompanhado os Nirvana na última digressão. A MTV queria em palco outros nomes, mais sonantes, mas Cobain não recuou. E ainda bem. No alinhamento deste MTV Unplugged estão, sem surpresa, 3 temas dos Meat Puppets: “Plateau”, “Oh Me” e “Lake Of Fire”
O disco “Nirvana – MTV Unplugged in New York” foi editado 7 meses após a morte de Cobain, em novembro de 1994 e foram vendidas mais de 5 milhões de cópias.
Avaliação do Polígrafo: