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Testes para o novo coronavírus têm 97% de margem de erro?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
A fiabilidade dos testes PCR tem sido constantemente questionada pelos negacionistas da pandemia de Covid-19. Em publicação propagada nas redes sociais, alega-se que os testes para deteção do SARS-CoV-2 têm "97% de margem de erro". Confirma-se?

“Hoje fizemos mais testes com 97% de margem de erro e descobrimos mais pessoas saudáveis que têm 99,96% de viverem”, critica-se ironicamente no post em análise. A mensagem é acompanhada de uma montagem que inclui uma fotografia do primeiro-ministro, António Costa, e dados relativos à Covid-19 em Portugal.

testes por

A acusação tem fundamento? Verificação de dados.

De acordo com uma circular de 27 de maio da Direção-Geral da Saúde (DGS), os testes de diagnóstico do novo coronavírus que estão atualmente disponíveis dividem-se em duas categorias relativamente aos componentes biológicos detetados:

“1. Componentes do vírus: a) Os testes de biologia molecular (RT-PCR) que detetam o RNA do vírus; b) Os testes de antigénio que detetam proteínas, tais como proteínas da superfície do vírus;

2. Anticorpos anti-SARS-CoV-2: a) Os testes serológicos que detetam anticorpos (IgA, IgM e/ou IgG) produzidos pelo organismo como resposta à infeção pelo SARS-CoV-2.”

Os testes moleculares e de antigénio são realizados com amostras do trato respiratório superior e/ou inferior. Já os testes serológicos utilizam soro, sangue total ou plasma. O teste cuja fiabilidade tem sido mais questionada – e que é considerado o teste de “referência” para deteção da Covid-19 – é o de biologia molecular (RT-PCR). Ou seja, um dos testes que permite detetar componentes do vírus.

Em Portugal, os testes de despistagem do novo coronavírus, também chamados “testes da zaragatoa”, são efetuados de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) publicou aliás um guia para definir os critérios dos testes à doença, no qual se garante que são “seguros e fiáveis”.

Em Portugal, os testes de despistagem do novo coronavírus, também chamados “testes da zaragatoa”, são efetuados de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) publicou aliás um guia para definir os critérios dos testes à doença, no qual se garante que são “seguros e fiáveis”.

João Júlio Cerqueira, médico especialista de Medicina Geral e Familiar e criador da página Scimed, explicou recentemente numa entrevista concedida ao Polígrafo que “o teste [PCR] tem uma especificidade muito próxima dos 100%“.

E exemplificou: “Há países a fazer testes de forma massiva na população geral, em circunstâncias de baixa prevalência, e mesmo considerando todos os positivos como sendo falso-positivos a especificidade seria de 99,9%”.

“Mesmo que o teste fosse fraco, basta olhar para o que está a acontecer no nosso país. O aumento do número de testes positivos acompanha o aumento de número de pessoas que ficam internadas. Se o teste fosse problemático nesse sentido, o número de internamentos e de admissões em UCI não acompanharia o aumento do número de casos”, concluiu.

“Mesmo que o teste fosse fraco, basta olhar para o que está a acontecer no nosso país. O aumento do número de testes positivos acompanha o aumento de número de pessoas que ficam internadas. Se o teste fosse problemático nesse sentido, o número de internamentos e de admissões em UCI não acompanharia o aumento do número de casos”, concluiu João Júlio Cerqueira.

Em declarações ao Polígrafo, Celso Cunha, virologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, também já tinha assegurado que, ainda que existam muitos testes PCR, os que são utilizados para encontrar “o genoma do SARS-CoV-2 foram desenhados para o detetar e são absolutamente específicos para este vírus em concreto”. 

Ou seja, os testes pesquisam o material genético do SARS-CoV-2, o novo coronavírus que causa a Covid-19, na amostra colhida pela zaragatoa e nada mais. Na prática, estes “não são capazes de detetar os outros coronavírus sazonais, que causam vulgares constipações, nas condições experimentais que são utilizadas, muito menos qualquer outro vírus que pertença a uma família diferente dos coronavírus”, sublinha o especialista. 

O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia, também já tinha explicado ao Polígrafo que não existe a possibilidade de se estar “a diagnosticar Covid-19 que afinal era gripe”. Os testes PCR “identificam material genético do vírus. Não quer dizer que entre outros vírus não possa haver uma reação cruzada, mas tendencialmente são testes muito específicos“, sublinhou.

No final de julho, o Polígrafo analisou uma publicação alegando (falsamente) que a margem de erro dos testes à Covid-19 é superior a 80%. Defeitos nos testes, contaminação ou má recolha de amostragens podem alterar os resultados do diagnósticos. E nenhum destes elementos está relacionado com a margem de erro original do teste.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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