“Telescópio de Beja para detetar lixo espacial custou 25 milhões de euros?” A pergunta foi colocada por um leitor em mensagem enviada ao Polígrafo, sem fornecer mais detalhes sobre a fonte que estaria na base de tal afirmação.
Facto é que, dias antes, tinha sido noticiada, na imprensa nacional, a existência de um “novo telescópio ótico” que “monitoriza [o] espaço a partir de Base Aérea de Beja”, que se encontra sob a alçada da Força Aérea Portuguesa.
O que está aqui em causa?
De facto, a notícia da Agência Lusa refere-se a “um investimento total de 25 milhões de euros, com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)” para a instalação deste equipamento, o qual “resultou de uma parceria entre a Força Aérea Portuguesa (FAP) e a empresa aeroespacial portuguesa Neuraspace”.
Em declarações ao mesmo órgão de comunicação social, o coronel Pedro Costa, diretor do Centro de Operações Espaciais da FAP, informou que o telescópio “vai fazer o seguimento e monitorização dos objetos no espaço, sejam satélites operacionais, seja lixo espacial” – à semelhança do que foi indicado pelo leitor.
Ao Polígrafo, fonte oficial da Força Aérea Portuguesa começa por notar que “o telescópio inaugurado no dia 10 de setembro na Base Aérea N.º 11, em Beja, é propriedade da empresa Neuraspace, pelo que qualquer questão relacionada com o investimento realizado deve ser remetido àquela empresa”.
Informa depois que essa “parceria entre a Força Aérea e a Neuraspace visa reforçar as capacidades de Portugal nas áreas da Consciência Situacional Espacial (Space Situational Awareness) e Vigilância e Rastreamento Espacial (Space Surveillance and Tracking) e a respetiva especialização no apoio ao avanço da segurança espacial, um domínio que o país há muito identificou como sendo de importância estratégica para a economia, proteção civil e segurança de infraestruturas críticas no espaço e em terra”.
Por sua vez, fonte oficial da Neuraspace, empresa sediada em Coimbra, confirma um “investimento aprovado” de 25 milhões de euros – “valor a executar pelo consórcio” – para este projeto. Acrescenta que “o contributo do PRR” para a iniciativa é de “15 milhões de euros, sendo o restante investido pelas empresas” envolvidas. Do valor proveniente da União Europeia “já foram executados 5,59 milhões de euros”.
Porém, segundo esclarece a mesma fonte, esse é “o investimento total de um projeto que não se esgota no telescópio em si, que é apenas uma parte do investimento que está a ser executado”. De acordo com a Neuraspace, o projeto “é muito mais vasto e engloba desenvolvimento tecnológico nas plataformas, recursos humanos e outros recursos técnicos necessários”.
Questionada sobre o custo efetivo do telescópio, a empresa diz apenas que “por questões de confidencialidade e pela complexidade do projeto”, não pode destacar “os valores individuais dos equipamentos envolvidos”. E reitera: “O valor investido inclui várias componentes, como recursos humanos e outros recursos técnicos essenciais para o desenvolvimento tecnológico dos produtos e serviços do projeto, do qual o telescópio é uma parte.”
No portal “Mais Transparência” verifica-se que só está registado um projeto da empresa Neuraspace que beneficia de fundos do PRR. Intitula-se “AI Fights Space Debris” (em português, “IA [Inteligência Artificial] luta contra o lixo espacial”) e prevê, à semelhança do que tinha revelado a empresa ao Polígrafo, um financiamento total de 15,84 milhões de euros até final de junho de 2026 – dos quais 5,59 milhões de euros já terão sido pagos.
Na página da Neuraspace faz-se referência a este mesmo projeto, destacando-se um “investimento elegível total” de 24,4 milhões de euros. De acordo com o site, o “projeto AI Fights Space Debris visa contribuir para a Neuraspace Space Traffic Management Platform, a primeira plataforma de operações espaciais que aborda a prevenção de colisões”.
Tal como indicou a empresa ao Polígrafo, a iniciativa divide-se em “cinco produtos, processos e serviços”, que vão desde ferramentas que permitem rastrear “objetos espaciais” e manter “registo de possíveis encontros próximos criando mensagens de dados de colisão”, até ao fomento de iniciativas de “conhecimento de ponta em Gestão de Tráfego Espacial (STM) por meio de cursos especializados, artigos de pesquisa, dissertações de mestrado, treinamento executivo e suporte a startups”.
Pelo que se considera, assim, que a alegação implícita na pergunta carece de enquadramento adicional para que possa ser devidamente compreendida. Nunca foi dito, através de qualquer meio, que o telescópio, por si só, custava 25 milhões de euros. O presente artigo serve para facultar o devido contexto e informação mais completa.
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Avaliação do Polígrafo: