"É evidente que estas taxas de juro tão elevadas - e que são historicamente elevadas -, também convém salientar que o BCE nunca teve uma inflação como esta, desde a sua existência, para combater", declarou Fernando Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças dos Governos de José Sócrates, em comentário na CNN Portugal, ontem à noite, focado no 10.º aumento consecutivo das taxas de juro diretoras anunciado no mesmo dia pelo BCE.

"E por isso nós estamos, de facto, a atravessar momentos históricos da política monetária, sob esse ponto de vista", sublinhou.

É verdade que o BCE nunca teve de lidar com uma inflação tão elevada desde a sua fundação?

Importa começar por identificar a data de fundação do BCE. Foi no dia 25 de maio de 1998 que os Governos dos 11 Estados‑membros participantes nomearam o presidente, o vice‑presidente e os restantes quatro membros da Comissão Executiva do BCE.

"A nomeação teve efeitos a partir de 1 de junho de 1998 e assinalou a instituição do BCE", recorda-se na página da instituição. "O BCE e os bancos centrais nacionais dos Estados‑membros participantes constituem o Eurosistema, que formula e define a política monetária única na Terceira Fase da UEM - União Económica Monetária".

Avançando para a inflação. De acordo com os dados do Eurostat, serviço de estatística da União Europeia, a taxa de inflação da Zona Euro - medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) - atingiu pela primeira vez a fasquia de 5% em dezembro de 2021.

Até então, o máximo registado desde a fundação do BCE tinha sido 4,1% em julho de 2008 - curiosamente, numa altura em que Teixeira dos Santos exercia o cargo de ministro das Finanças e de Estado no primeiro Governo de Sócrates.

A mais extensa trajetória ascendente da taxa de inflação na Zona Euro teve início em janeiro de 2021, com uma subida para 0,9%, após cinco meses (entre agosto e dezembro de 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19) em terreno negativo.

Viria a subir consecutivamente até chegar um pico de 10,6% em outubro de 2022. Entretanto já baixou para 6,1% em maio de 2023, mas permanece em níveis historicamente elevados.

O ciclo de subidas das taxas de juro diretoras implementado pelo BCE coincide temporalmente com a trajetória ascendente (e subsequente pico de 10,6%) da taxa de inflação na Zona Euro. De facto, nunca o BCE tinha enfrentado uma taxa de inflação tão alta, pelo que aplicamos o carimbo de "Verdadeiro" na alegação de Teixeira dos Santos.

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