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Sousa Tavares equivocou-se sobre “Os Maias”

Política
Este artigo tem mais de um ano
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O jornalista afirmou no Jornal das Oito que a obra-prima de Eça de Queirós foi retirada "agora" do lote de leituras obrigatórias no ensino secundário. A afirmação carece de rigor, uma vez que há pelo menos 16 anos que assim acontece.

No seu programa de comentário semanal no Jornal das Oito da TVI, Miguel Sousa Tavares abordou esta noite a efeméride do 20º aniversário da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago – uma distinção que o jornalista considerou uma conquista “inestimável“, que projetou a imagem de Portugal e dos escritores portugueses no mundo.

Apesar dos manifestos elogios ao escritor português entretanto falecido, Sousa Tavares sublinhou que se trata de um “operário da escrita” que não é “fácil de ler”, entre outras razões, pelo facto de raramente utilizar vírgulas ou parágrafos. Esta circunstância, rematou o escritor e jornalista, torna muito difícil a tarefa de qualquer jovem que queira tomar contato com a obra do único Nobel da literatura português.

Eça de Queirós

Miguel Sousa Tavares, que agora luta pelas audiências de segunda-feira à noite com Manuela Moura Guedes (a ex-pivot da TVI inaugurou hoje o seu próprio espaço de comentário na SIC), aproveitou ainda para se referir a Eça de Queirós, um escritor que em seu entender é mais fácil de ler. Problema: segundo Sousa Tavares, “agora ‘Os Maias’ foi retirado de leitura obrigatória” nos liceus, o que dificulta o acesso dos jovens a uma das obras mais ricas da literatura portuguesa.

A afirmação de Sousa Tavares carece de rigor, uma vez que há muito – mais precisamente desde 2002 – que o romance mais conhecido de Eça de Queirós não é de leitura obrigatória. O jornalista terá sido condicionado por uma notícia do Público de 18/07/2018 (que pode ler aqui), segundo a qual o Governo tomara a decisão de afastar “Os Maias” das leituras obrigatórias no ensino secundário. Nessa altura o artigo tornou-se viral na internet e gerou grande indignação pública. O Ministério da Educação esclareceu então que das listas de conteúdos programáticos “continuam a constar autores como Eça de Queirós como leituras obrigatórias, dando liberdade às escolas para selecionar as obras concretas a ler”. Ou seja, o autor é obrigatório, mas a obra a ler é passível de ser escolhida entre várias opções. Objetivo expresso do Ministério da Educação: “Todos contactam com o autor e o movimento literário, mas alarga-se o leque de leituras dos alunos”.

Por este motivo, o comentário de Miguel Sousa Tavares é…

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