O título da manchete da última edição do Expresso é inequívoco: “Sorbonne admite tirar mestrado a Sócrates”. E a resposta de José Sócrates, através de comunicado, também é: “Nunca tive qualquer mestrado da Sorbonne. Julgo, portanto, difícil tirarem-me o que nunca tive.”
Quem tem razão? A resposta é… os dois.
O Expresso faz uma generalização, atribuindo o diploma de Sócrates à Universidade Sorbonne. Só não diz a que Sorbonne se refere. Sim, porque há várias instituições de ensino francesas que utilizam a “chancela Sorbonne”. A mais conhecida foi fundada no século XIII e é constituída por quatro instituições:
- Panthéon-Sorbonne
- Sorbone Nouvelle
- Paris-Sorbonne
- Paris Descartes
Aquela a que o Expresso se referirá é a Université Sorbonne Paris Cité (USPC), de que fazem parte nove instituições de ensino superior. Uma delas é a Sciences Po, que se dedica ao ensino e à investigação de ciências sociais. Fazendo uma comparação, dizer que Sócrates tirou o diploma na Sorbonne Paris Cité é o mesmo que afirmar que um jornalista licenciado no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas obteve o seu diploma na Universidade de Lisboa, onde o referido instituto se integra.
No site da Université Sorbonne Paris Cité é possível ler o seguinte depoimento de Frédéric MION, diretor da Sciences Po: “A Sciences Po está totalmente comprometida com a federação de universidades e instituições que constituem a USPC. Partilhamos os objetivos da USPC: assegurar a qualidade dos cursos e o sucesso dos estudantes, atrair os alunos mais brilhantes e os melhores investigadores, e responder aos desafios da sociedade contemporânea através de programas multidisciplinares.”
José Sócrates faz uma interpretação mais restritiva, cingindo a sua formação à Sciences Po. Não pode dizer-se que o ex-primeiro-ministro minta – pelo contrário, a sua análise é factualmente correta. Apesar de estar inserido na USPC, o Sciences Po tem autonomia pedagógica e já tem uma longa história (bem mais longa do que a USPC), tendo sido fundado em 1872, data a partir da qual se transformou numa das instituições de ensino superior mais reputadas de França.
Na nota ontem enviada à comunicação social José Sócrates volta a contestar a tese do Ministério Público: “O Dr. Domingos Farinho não escreveu nenhuma parte original da minha tese de mestrado.”
Ao Expresso, o Science Po confirmou que considerava a possibilidade de retirar o diploma de mestrado ao ex-primeiro-ministro, baseado na suspeita de que o autor da sua tese final é, na verdade, o professor de direito Domingos Farinho, apresentado na Operação Marquês como “ghost writer” de Sócrates.
Na notícia, o semanário do grupo Impresa publica uma declaração do diretor de comunicação da Sciences Po, Jérôme Guilbert: “Temos conhecimento e do processo judicial contra o Sr. Sócrates, que inclui a acusação de branqueamento de capitais a favor do Sr. Domingos Farinho, suspeito de ter contribuído para a tese de Sócrates (…) “Entendemos que esta acusação é séria o suficiente para considerarmos a retirada por fraude do diploma emitido. Estamos a aguardar que haja uma decisão do tribunal para tomarmos uma decisão.”
“Tudo o que escrevi na tese do engenheiro Sócrates diz respeito a referências bibliográficas e/ou citações de autores, quer no corpo de texto quer em notas de rodapé”, afirmou Domingos Farinho.
Na nota ontem enviada à comunicação social José Sócrates volta a contestar a tese do Ministério Público: “O Dr. Domingos Farinho não escreveu nenhuma parte original da minha tese de mestrado (…) quem ler os e-mails que troquei com o Dr. Domingos Farinho ao longo de todo o processo de elaboração da tese, dificilmente e honestamente encontrará (mais exatamente, não encontrará) fundamento sério para as suspeitas aventadas”.
Também Domingos Farinho desmentiu ao Expresso a autoria da tese: “Tudo o que escrevi na tese do engenheiro Sócrates diz respeito a referências bibliográficas e/ou citações de autores, quer no corpo de texto quer em notas de rodapé, além da normal revisão de texto que me pareceu pouco claro ou que, formalmente, me parecia ficar melhor de outro modo, muitas vezes consistindo em propostas de passar referencias do corpo de texto para notas de rodapé ou vice-versa.”
Avaliação do Polígrafo: