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Sim, ex-militar francês garante que só assistiu a crimes de guerra perpetrados por ucranianos

Internacional
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
A tradução de uma entrevista de suposto ex-militar francês, Adrien Bocquet, tem circulado nas redes sociais pelo menos desde 11 de maio. De acordo com os "posts", Bocquet terá dito, depois de uma visita em regime de voluntariado à Ucrânia, que os crimes de guerra que viu "foram cometidos pelos ucranianos", nomeadamente pelo batalhão "Azov". Relato é autêntico e foi transmitido num canal de rádio francês.

“A grande manipulação: Adrien Bocquet, antigo militar e desportista, autor de uma biografia que comoveu a França, ofereceu-se nos primeiros dias de guerra para prestar apoio médico aos civis e militares ucranianos em zonas de combate”, descreve post de 11 de maio, no Facebook. “Após semanas na linha da frente, regressou chocado a França e concedeu ontem o seu testemunho sobre as exações cometidas pelo exército de Kiev, sobretudo pelo batalhão Azov“.

Depois, a publicação transcreve parte da entrevista, atribuindo-se a Adrien Bocquet frases como: “Assumo plenamente o que digo. Fui testemunha de crimes de guerra e os únicos crimes de guerra com os quais fui confrontado foram perpetrados por militares ucranianos e não por militares russos. (…) Ao regressar a França, fiquei extremamente chocado ao confrontar aquilo que me foi dado ver com a versão que por cá domina a comunicação social. É abominável. (…) Quanto aos militares Azov, estão por todo o lado, até em Lviv, fardados e com aquele símbolo neonazi no camuflado.”

De acordo com as suas próprias palavras, transmitidas no canal de rádio francês “Sud Radio”, Adrien Bocquet esteve na Ucrânia por duas vezes durante 16 dias, em lugares tão conhecidos quanto Kiev, Bucha, onde fazia essencialmente transporte de medicamentos para os hospitais de campanha e orfanatos.

Durante esse período, Bocquet descreve que testemunhou “muitos crimes de guerra”, mas os únicos que viu durante os dias em que esteve nesses locais “foram perpetrados pelos militares ucranianos e não pelos militares russos”. Isto não significa, no entanto, que “não haja crimes de guerra por parte dos russos”, mas sim que “também há por parte dos ucranianos”, dos quais Bocquet afirma que ninguém fala: “Quando voltei para França fiquei extremamente chocado com as pessoas que são convidadas a ir à televisão, da direita à esquerda: 80% dessas pessoas estão longe da guerra e permitem-se a falar sobre ela. Isso irrita-me, porque entre o que eu vejo na televisão e aquilo que eu vi no local, há uma lacuna enorme. É abominável.”

“Quando voltei para França fiquei extremamente chocado com as pessoas que são convidadas a ir à televisão, da direita à esquerda: 80% dessas pessoas estão longe da guerra e permitem-se a falar sobre ela. Isso irrita-me, porque entre o que eu vejo na televisão e aquilo que eu vi no local, há uma lacuna enorme. É abominável”.

Segue-se um relato sobre o batalhão “Azov”, uma unidade neonazi da Guarda Nacional da Ucrânia, sediada em Mariupol. De acordo com Bocquet, estes militares estão “por toda a parte” e, nas suas fardas, está presente o emblema neonazi (suástica inspirada nas SS): “A mim o que me choca é que a Europa continue a fornecer armamento aos militares que, para mim, são neonazis… com insígnias neonazis. Estavam em todo o lado e ninguém se importava.”

O ex-militar francês diz ainda que, por fornecer medicamentos também a este batalhão, entendia as suas conversas (feitas em ucraniano, russo ou até em inglês): “Eles diziam, em tom de brincadeira, que se encontrassem judeus ou negros, esfolavam-nos. E riam imenso deste tipo de conversa. Sobre judeus e negros.”

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