“Impressionante! Com estas seringas especiais está a ser vacinada a elite judia que nos oprime… Eles e todos os seus lacaios maçons que viu vacinados pela televisão! Tudo é uma farsa, não acredites em nada!”
Esta é a parte inicial do texto – tradução livre a partir do original em língua castelhana – que acompanha a publicação de um vídeo na página de Facebook do grupo negacionista argentino “Médicos por La Verdad – Argentina”, entretanto difundida por todo o continente americano, através das redes sociais de movimentos da mesma natureza. E também já chegou a Portugal.
O vídeo mostra uma seringa de agulha retráctil que aparenta fazer uma inoculação na palma da mão de quem está a fazer a demonstração. A seguir ao contacto, a agulha é retirada e, quando o êmbolo é puxado, percebe-se que o líquido não foi introduzido no organismo. Estava apenas escondido, mantendo-se intacto no interior da seringa.
A teoria veiculada no texto já citado é a de que a “elite judia” simula uma vacinação para que o resto do mundo fique convencido dessa necessidade e, assim, se deixe inocular, com vacinas que não são mais do que um “veneno transgénico que mata ou incapacita“, um autêntico “genocídio planeado“.
A seringa da imagem é a utilizada na vacinação para a Covid-19?
Não. Algumas caraterísticas da seringa utilizada no vídeo são incompatíveis com os requisitos necessários para realizar as inoculações que protegem o ser humano do SARS-CoV-2.
Tamanho da seringa:
No vídeo é perceptível que se trata de uma seringa de 5 mililitros (ml). Ora, não é esse o tamanho utilizado na vacinação para a Covid-19. Por se tratar de uma quantidade de líquido bastante reduzida (0,3 ou 0,5 ml, conforme a marca da vacina), a seringa recomendada pelas autoridades de saúde é a de 1 ml, visto ser a única que permite identificar com precisão a quantidade necessária para cada inoculação (e, no caso da Pfizer/BioNTech, evitar o desperdício, porque permite extrair mais facilmente a sexta dose de cada frasco).
Tamanho da agulha:
Também parece ser demasiado grande, dificilmente compatível com o tipo de administração prescrito na vacinação para a Covid-19: intramuscular (braço). De resto, a ser verdadeira, a agulha hipodérmica do vídeo é verde escura, cor que no código cromático universal deste utensílio equivale à medida de 21 Gauge/25 a 38 mm, quando para este tipo de inoculações são recomendados os intervalos de 22 a 25 Gauge/16 a 25 mm.
Proteção e mecanismo de retração da agulha:
Através da visualização das imagens é ainda possível detectar duas outras fragilidades na verosimilhança do que se pretende sugerir: a falta da tampa de proteção à agulha quando a seringa é retirada do invólucro (que é um preceito de segurança obrigatório) e o facto de o mecanismo de retração poder ser ativado repetidamente. Ou seja, a agulha pode ser recolhida e estendida mais do que uma vez, o que na prática anularia a sua principal caraterística e vantagem – impossibilidade de contacto com a agulha, logo, de perfuração ou contaminação.
Pelas suas dimensões e ausência de requisitos obrigatórios de segurança, tudo indica que esta não seja uma seringa verdadeira, mas sim de diversão, comercializada como brinquedo. Certo é que nunca poderia ter sido utilizada para fazer uma inoculação no âmbito da vacinação contra a Covid-19.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é: