Os resultados das eleições legislativas marcaram a rotura com o bipartidarismo e a hecatombe do PS, que em três anos perdeu um milhão de votos e corre mesmo o risco de ficar atrás do Chega depois da contagem dos votos no estrangeiro. Na CNN, enquanto comentador da noite eleitoral, Sérgio Sousa Pinto defendeu que o PS precisa de “encarar as razões da tragédia”, chegando mesmo a considerar que se o partido não acabasse com “esta direção, esta direção acabava com o partido”.
“É uma calamidade para o Partido Socialista. A única leitura da noite é a magnitude do desastre”, disse o deputado, admitindo que o que está em causa é o futuro do partido.”Nunca me passou pela cabeça que ter razão fosse um desastre desta ordem de grandeza”, confessou ainda.
A leitura do deputado socialista daquela que é chamada a “ala direita do PS” trouxe à memória uma posição tomada pelo próprio em dezembro de 2023, quando decorriam eleições internas no PS para escolher o sucessor de António Costa. Num artigo de opinião publicado pelo jornal “Expresso”, intitulado “O virar de página”, Sérgio Sousa Pinto elogiou Pedro Nuno Santos e manifestou – mesmo que de forma implícita – o apoio à candidatura à liderança do PS, cargo ao qual também concorriam José Luís Carneiro e Daniel Adrião. O tema chegou a ser objeto de um fact-check do Polígrafo na dada altura.
Numa evidente referência à corrida pela sucessão de António Costa na liderança do PS -, o deputado – que foi também um dos maiores críticos da Geringonça – sublinhou que “Pedro Nuno Santos ficou sozinho na defesa da geringonça, na qual acreditou e a qual serviu, com boa fé até ao fim, com uma convicção que não lhe pareceu decente, por cálculo, desdizer ou repudiar”.
Na altura, mesmo considerando ter “convicções opostas” às de Pedro Nuno Santos em relação aos “benefícios das alianças à esquerda”, o deputado destacou que o então candidato a secretário-geral do PS “não renegou nada do que fez, disse e é”. E lançou um elogio: “No atual contexto, formatado por anos de habilidade, não se apresenta como um radical mas como uma ilha de dignidade.”
Considerou ainda que Pedro Nuno Santos tem “coragem, autenticidade e respeito por si próprio”, ainda que tais “virtudes” não sejam, por si só, “suficientes para fazer um bom líder nem um melhor Primeiro-Ministro”. No entanto, adverte que “quem as não tem, nem provou ter, ao longo de anos de prostrados serviços ao líder agora de saída“, faria melhor em reservar-se a um “prudente silêncio”.
Sérgio Sousa Pinto concluiu o texto a argumentar que “as fraturas que as eleições internas no PS estão a expor, nasceram no Conselho de Ministros e no Estado-Maior do costismo“. Neste âmbito, assegura que “na denominada ‘ala direita’, cada um fará o que bem entender, como é de regra”, mas não deixa de revelar quem merece o seu apoio: “Por mim, estou com o virar de página.”
Cerca de um mês depois da publicação do artigo, Sérgio Sousa Pinto voltou a elogiar Pedro Nuno Santos devido à intervenção no 24.º Congresso do PS. “Pedro Nuno Santos é aquele produto que ali está (…) Gosto de pessoas que são como são, que são pessoas, que não são construções, que não são desenhadas pelos ‘spin doctors’, pelos especialistas da comunicação. Pedro Nuno Santos é aquele produto que ali está, aquilo é ele“, disse.
Já este ano, aquando da queda do Governo da Aliança Democrática, Sérgio Sousa Pinto tomou uma posição que surpreendeu a maioria, ao decidir abandonar as listas do PS às legislativas depois de 16 anos e seis legislaturas enquanto deputado. Sousa Pinto integrava a lista por Lisboa (quarta posição) e tomou a “decisão difícil” de sair por questões “quase insuportáveis”, uma vez que não se revia nas escolhas e no rumo do partido.
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Avaliação do Polígrafo: