“Um pão de quilo em 1990: 8 escudos, que são atualmente 4 cêntimos de euro. Um pão de quilo em 2023: 2 euros, que são cerca de 400 antigos escudos. Salário mínimo em 1990: 174,60 euros. Salário mínimo em 2023: 760,00 euros. O pão custa hoje 50 vezes mais do que em 1990″, destaca-se num post de 5 de agosto no Facebook que está a ser partilhado por milhares de pessoas.
A partir dos referidos valores conclui-se que “se o salário mínimo aumentasse como o pão, seria atualmente de 8.730,00 euros por mês. Ou se o pão aumentasse como o salário mínimo, custaria nos dias de hoje apenas 0,174 cêntimos”.
O mesmo post, que foi enviado por um leitor ao Polígrafo para verificação, dá ainda conta do seguinte: “De outra forma, a compra diária de um pão de quilo, ao fim do mês, consome, em 2023, 8% do salário mínimo. Em 1990 representava 0,7% do salário mínimo.”
Mas será que estas alegações têm fundamento?
Estes dados tinham já começado a circular online no ano passado, altura em que o Polígrafo se debruçou, pela primeira vez, sobre o tema.
De facto, Mário Soares assinou, a 12 de junho de 1985, o tratado que integrava Portugal na então Comunidade Económica Europeia (CEE). Nesse ano, o país atualizava, via despacho normativo, os preços máximos de venda ao público de pão de trigo fabricado com farinha dos tipos 75, 95 e 115.
Assim, em novembro de 1985, os preços máximos de venda ao público da unidade de pão de trigo fabricado com farinha dos tipos 75, 95 e 115 (gramas distintas) cifravam-se nos 4,50 escudos, 6 escudos e 9,50 escudos, respetivamente. Ao quilograma, para ajustarmos as contas à análise do tweet, os preços chegavam aos 92 escudos, 87 escudos e 86 escudos.
Já em 1990, o Governo voltava a atualizar estes valores para os subir para mais de 100 escudos por quilograma de pão. Segundo a Portaria 1110-O/89, de 28 de dezembro de 1989, o quilo de pão passava a custar entre 109 escudos e 126 escudos, dependendo do tipo de farinha e da quantidade a adquirir.
Em conclusão, na década de noventa o quilo de pão rondava os 110 escudos, um valor que está longe daquele que foi apontado no tweet em análise. Como tinha já concluído o Polígrafo, em 2023 o quilograma de pão podia já chegar aos 4 euros, mas a verdade é que o pão mais comercializado, a chamada “carcaça”, era então vendida a mais ou menos 2,70 euros, enquanto o “cacetinho” ascendia a 2,38 euros.
Tendo em conta uma média de 2,50 euros por quilo de pão, e procedendo à conversão do valor praticado em 1990 (110 escudos), verifica-se que o pão que custava à volta de 55 cêntimos há 34 anos, custava em 2023 mais dois euros, um aumento de 355%. Já o salário mínimo, que se cifrava nos 174,6 euros em 1990, fixava-se nos 760 euros no ano passado, um aumento de 335%. Contas feitas, se o salário mínimo tivesse aumentado tanto quanto o pão, então estaria nos 794,43 euros em 2023, apenas mais 34,43 euros do que o seu valor real no ano passado.
Além disso, refira-se que, ao contrário do que se afirma na publicação analisada, não existe uma discrepância assim tão grande naquilo que seria o eventual impacto de uma “compra diária de um pão de quilo” nos dois períodos. Considerando o valor bruto do salário mínimo nacional e um mês com 30 dias, o custo associado a essa prática ascenderia aos 16,5 euros em 1990 e 75 euros em 2023, com base nos valores anteriormente indicados. O que equivale, respetivamente, a 9,45% e 9,87% da retribuição mensal mínima em vigor em cada uma das datas citadas.
Assim, conclui-se que o tweet difunde informação falsa e pouco contextualizada, pelo que merece o selo de “Falso” na escala do Polígrafo.
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Avaliação do Polígrafo: