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Saldo populacional: “Portugal tem vindo a perder 20 mil pessoas por ano”?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Assim se destaca em publicação no Facebook, embora não especificando qual o saldo populacional em causa: total, natural ou migratório? Para dissipar quaisquer dúvidas dos leitores que solicitaram uma verificação deste conteúdo, o Polígrafo analisa os dados dos três tipos de saldo populacional.

Portugal tem vindo a perder 20 mil pessoas por ano, o equivalente a uma cidade como Oliveira do Hospital”, destaca-se num post de 6 de novembro no Facebook, enviado ao Polígrafo com pedidos de verificação de factos.

Exibe também uma imagem do primeiro-ministro António Costa, ao qual é atribuída a seguinte citação (apócrifa, sublinhe-se): “Eu não digo aos jovens para emigrarem, empurro-os porta fora…”

A publicação não especifica qual o saldo populacional em causa: total, natural ou migratório? Para dissipar quaisquer dúvidas, o Polígrafo analisa os últimos dados (do Instituto Nacional de Estatística e da Pordata) referentes aos três tipos de saldo populacional.

Começando pelo saldo migratório, desde 2017 que é positivo, após um período de seis anos consecutivos (2011-2016, indo além do período de intervenção da troika) com resultados negativos.

O saldo migratório consiste na diferença entre os números de emigrantes e imigrantes por cada ano. Em 2021 e 2020 (os dois últimos anos com dados preliminares já apurados) registaram-se saldos migratórios positivos de +25,6 mil e +114,6 mil pessoas, respetivamente.

Quanto ao saldo natural, isto é, a diferença entre nascimentos e mortes por cada ano, desde 2009 que permanece em terreno negativo, perfazendo 13 anos consecutivos de perda populacional (compensada, em parte, pelo saldo migratório positivo) em 2021.

Neste âmbito, a queda tem sido cada vez mais acentuada, superando novos pontos mínimos nos últimos anos (fenómeno agravado pela pandemia de Covid-19, sublinhe-se): -26 mil em 2018, -25,3 mil em 2019, -38,9 mil em 2020, -45,2 mil em 2021.

Por fim, o saldo total, que conjuga os saldos natural e migratório. Após dois anos com resultados positivos (+19,3 mil em 2019 e +75,7 mil em 2020), voltou a cair para terreno negativo em 2021, com -19,6 mil pessoas.

Entre 2010 e 2018, o saldo total foi sempre negativo, tendo superado pontos mínimos durante o período de intervenção da troika: -55,1 mil em 2012, -60 mil em 2013 e -52,5 mil em 2014.

Em publicação no Facebook denuncia-se que "os 'media' escondem" o suposto facto de que "continuam a emigrar mais jovens do que no tempo da 'troika'". Ou seja, durante o período de resgate financeiro do Estado português, entre 2011 e 2014. O Polígrafo verifica os números.

Concluindo, a alegação de que “Portugal tem vindo a perder 20 mil pessoas por ano” não coincide, de todo, com os números do saldo total e do saldo migratório, como acabamos de demonstrar.

Está mais próxima dos números do saldo natural, mas ainda assim peca por defeito, largamente, na medida em que os resultados negativos nesse indicador atingiram -38,9 mil em 2020 e -45,2 mil em 2021. Pelo que aplicamos o selo de “Falso“.

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Atualização:

Na véspera da publicação deste artigo, o INE divulgou os resultados definitivos dos Censos 2021, atualizando os dados preliminares. Como a divulgação destes novos dados é posterior ao post sob análise, não foram tidos em conta na respetiva avaliação. De qualquer modo fica aqui a indicação do acesso aos dados mais recentes.

Segundo apurou o INE, na última década (entre 2011 e 2021), “o país registou um decréscimo populacional de 2,1% e acentuaram-se os desequilíbrios na distribuição da população pelo território”. Mais, “agravou-se o fenómeno de envelhecimento da população, com o aumento expressivo da população idosa e a diminuição da população jovem”.

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Avaliação do Polígrafo:

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