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Salário mínimo tem-se aproximado do salário dos assistentes técnicos da Função Pública?

Economia
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
É o que dá a entender uma recente publicação no Facebook. De acordo com uma tabela que agrega a evolução dos respetivos valores desde 2005, nessa altura os assistentes técnicos "administrativos" da Função Pública "ganhavam cerca do dobro" do salário mínimo nacional, mas em 2022 já estão praticamente ao mesmo nível. Verdade ou falsidade?

“Apenas mais um exemplo do miserabilismo socialista no processo de venezuelização e empobrecimento de Portugal”, começa por ler-se na publicação em causa, que revela um gráfico com indicação das seguintes fontes: Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), “Diário da República” e Pordata.

“Verifiquem que o ordenado mínimo nacional está cada mais perto no ordenado médio nacional. Na imagem verifica-se até que já atingiu o vencimento dos assistentes técnicos administrativos que, em 2005, ganhavam cerca do dobro do ordenado mínimo nacional”, destaca-se no texto.

O Polígrafo consultou as fontes indicadas e verificou se todos os valores correspondem à realidade. Começando pela evolução da Remuneração Mínima Mensal Garantida (RMMG), segundo a Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), é verdade que este montante, em 2005 (ano em que tem início a análise da publicação), se cifrava nos 374,70 euros mensais.

Desse ano em diante, os aumentos foram sucessivos. Em outubro de 2014 o salário mínimo em Portugal já ultrapassava a meta dos 500 euros, totalizando 505 euros mensais por trabalhador, num aumento de 4,1% em relação a 2011, último ano com atualizações salariais.

Dois anos depois, em 2016, esta remuneração era mais uma vez atualizada com uma subida de 5% face ao último aumento, cifrando-se nos 530 euros. Em 2017 (557 euros) verificou-se mais um salto de 5,1%, em 2018 (580 euros) foram 4,1% e em 2019 foi finalmente ultrapassada a fasquia dos 600 euros.

Quatro anos depois, já em 2022, este valor foi atualizado pelo Decreto-Lei n.º 109-B/2021 de 7 de dezembro e atingiu, pela primeira vez na história, mais de 700 euros mensais (705 euros). Representou mais 6% do salário mínimo pago em 2021 (665 euros) e foi proclamado pelo atual Governo como “o maior aumento de sempre” do salário mínimo nacional.

Olhando agora para a remuneração de um assistente técnico na Função Pública, segundo os documentos disponibilizados anualmente pela DGAEP, “Sistema Retributivo da Administração Pública”, verifica-se que o primeiro ano passível de consulta é 2008, quando o salário de um “técnico profissional de 2.ª classe” era de 663,88 euros mensais, ou seja, mais 237,88 euros do que a RMMG nesse mesmo ano, que se situava nos 426 euros. Em percentagem, um técnico profissional de 2.ª classe recebia mais 55,8% do que o salário mínimo à data.

No debate desta terça-feira à noite frente a António Costa, o secretário-geral do PCP criticou o primeiro-ministro por pretender valorizar o salário médio (objetivo inscrito no Programa Eleitoral do PS) sem ter em conta, desde logo, os trabalhadores da Administração Pública que "praticamente não tiveram qualquer aumento" salarial em 10 anos. Nesse âmbito, questionou: "Como é que se aumenta o salário médio?"

Entre 2009 e 2020, tal como o Polígrafo já verificou, a generalidade dos funcionários públicos não obteve aumentos reais dos salários. Só em 2020 é que o Governo de António Costa, já na segunda legislatura, decidiu aumentar em 1,5% os trabalhadores da Função Pública com salários até aos 683,13 euros, o salário atribuído aos assistentes técnicos durante todo esse período.

Ainda que o seu salário se tenha mantido, como vimos a remuneração mínima mensal foi crescendo continuamente e o montante que os assistentes técnicos recebiam a mais em 2009 (233,13 euros), caiu para os 83,13 euros em 2019. Ou seja, numa altura de estabilidade para estes funcionários públicos, o salário mínimo nacional cresceu 33,3%.

Assim, só há dois anos é que os trabalhadores inseridos nesse nível da tabela remuneratória da Função Pública viram o seu salário aumentar para os 693,13 euros, uma subida que se viria a verificar também em 2021, quando as remunerações base da Função Pública foram aumentadas e o salário de assistente técnico ultrapassou os 700 euros, perfazendo 703,13 euros mensais.

Já em 2022, e segundo o “Sistema Retributivo da Administração Pública” deste ano, o salário dos assistentes técnicos voltou a sofrer nova atualização e atingiu os 709,46 euros, mais 4,46 euros do que a RMMG.

Para concluir, em 2008 os assistentes técnicos dispunham de mais 237,88 euros na carteira do que um trabalhador que recebesse o salário mínimo. Em 2022, como vimos, esta diferença é quase nula.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

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