Era mais uma aula da Telescola, desta vez de História e Geografia de Portugal para o 2º Ciclo, e ia falar-se sobre a “expansão marítima do século XV” e a “manutenção do Império Colonial no século XX”. Mas a lição veio com uma polémica: um vídeo transmitido nessa aula era do historiador Rui Tavares, fundador do partido Livre.
Agora, o CDS-PP quer explicações do Governo sobre a “escolha dos professores do projeto #EstudoEmCasa”, afirmando que o módulo de História tinha sido “parcialmente dado pelo historiador e político Rui Tavares, fundador do partido Livre e publicamente reconhecido como seu líder e porta-voz”.
O pedido de explicações surge depois de Nuno Melo ter publicado nas redes sociais uma mensagem em que criticava a “escolha” de Rui Tavares “para a Telescola”. No tweet em causa, o eurodeputado do CDS-PP denunciou que “entre tantos, Rui Tavares foi escolhido para a telescola, destilando ideologia e transformando alunos em cobaias do socialismo. Nem disfarçam. Uma aviltante e ignóbil revolução cultural em marcha que pais sem recursos não podem evitar. Política travestida de educação. Miséria”.
Acontece que Rui Tavares não deu qualquer aula no âmbito do projeto #EstudoEmCasa, nem foi “escolhido para a Telescola”. As imagens em que o porta-voz do Livre fala sobre a “expansão do mundo português” não são novas e o conteúdo está disponível desde dezembro de 2018 na RTP Play. Quem o confirmou ao Polígrafo SIC foi o próprio Ministério da Educação: “Rui Tavares não é professor no #EstudoEmCasa. O que ocorreu no passado dia 24 de abril foi a utilização de um recurso pedagógico por parte das duas professoras de História e Geografia de Portugal do 5.º e 6.º anos. Como em qualquer aula, planificada pelos professores e validada pela Direção-Geral da Educação, os docentes utilizam os recursos pedagógicos que entendem adequar-se às matérias em questão. No caso, trata-se do excerto de 5 minutos de um programa de História, exibido na RTP2 em 2018, e disponível na plataforma RTP Ensina, à qual os docentes recorrem com regularidade para utilizarem nas suas aulas (presenciais ou não presenciais).”
Ao Polígrafo SIC o Ministério da Educação esclarece que “Rui Tavares não é professor no #EstudoEmCasa. O que ocorreu no passado dia 24 de abril foi a utilização de um recurso pedagógico por parte das duas professoras de História e Geografia de Portugal do 5.º e 6.º anos.”
Aliás, de acordo com a apresentação feita num vídeo introdutório durante a aula da Telescola, o programa foi retirado do serviço RTP Ensina. “Vamos ver um vídeo do site RTP Ensina, que a partir de fotografias nos mostram um pouco dessa Exposição”, disse Franklin, a personagem criada pela Escola Virtual e pela Leya para apresentar estes conteúdos.
Apesar disso, o momento suscitou polémica nas redes sociais. “Estão a usar a Telescola para propaganda ideológica e a introduzir no ensino das crianças propaganda ideológica marxista de extrema-esquerda”, acusou um internauta no Twitter, sugerindo que Rui Tavares se havia referido ao Império Português como um “período negro”.
Em declarações ao Polígrafo SIC, Rui Tavares sublinhou que a decisão não foi sua: “Nem tive conhecimento”.
Mas a expressão “período negro” não foi usada pelo historiador e líder do Livre, que respondeu ao comentário também no Twitter: “O episódio não é sobre o Império, mas sobre a Exposição do Mundo Português. A expressão ‘período negro’ não aparece. Porque mente? Porque usa um screenshot [captura de ecrã] e não o link aberto, para que todos possam ver que são contextualizados argumentos do regime, oposição e observadores? Não vale tudo”.
[twitter url=”https://twitter.com/ruitavares/status/1257367853998714880″/]
Noutras mensagens publicadas no Twitter, Rui Tavares esclareceu que não deu aulas na Telescola: “As professoras da Telescola decidiram usar um episódio de um programa meu. Está aqui, veja por si se não equilibra e contextualiza os argumentos de regime, oposição e observadores externos“, escreveu, publicando a seguir o episódio original da RTP Play.
Em declarações ao Polígrafo SIC, Rui Tavares sublinhou que a decisão não foi sua: “Nem tive conhecimento”. E acrescentou: “O programa não é sobre o império, é sobre a exposição do mundo português em 1941.”
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Avaliação do Polígrafo SIC: