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Rui Rocha diz que se desperdiçaram mais de 600 mil votos nas últimas eleições legislativas. É verdade?

Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
O líder dos liberais esteve ontem à noite na CNN Portugal para uma entrevista que clarificou a posição do seu partido nos entendimentos políticos: PSD sim, Chega não. Para mais, Rui Rocha garantiu que o Iniciativa Liberal quer mesmo avançar com revisão constitucional que permita dar a volta ao problema da habitação, mas também ao sistema eleitoral. Segundo o próprio, mais de 600 mil votos "foram perdidos nas últimas eleições legislativas". Confirma-se?

O líder do Iniciativa Liberal, Rui Rocha, esteve ontem à noite na CNN Portugal, para uma entrevista que se sucede à de Luís Montenegro – em que o líder do PSD delineou linhas vermelhas e afastou o Chega da equação para chegar ao Governo de direita. Sem o Chega, os liberais e os sociais-democratas terão que rever as prioridades, uma tarefa que se adivinha difícil se tivermos em conta as condições de Rocha para o efeito:

“Nós temos linhas que apresentámos, e eu vou-me focar apenas naquilo que é a solução que queremos construir e que passa por um entendimento com o PSD no futuro, depois de eleições, e passa também por cinco pontos muito importantes: a IL é um partido responsável, mas é também exigente. Queremos que haja baixa de impostos, sobretudo em relação ao trabalho, simplificação de processos, liberdade de escolha na saúde e na educação, um sistema eleitoral completamente diferente, que permita que 600 e tal mil votos que foram perdidos nas últimas eleições legislativas, porque não permitiram eleger, sejam reaproveitados, uma reforma profunda do Estado e uma revisão constitucional.”

São, afinal, sete pontos aqueles pelos quais o Iniciativa Liberal fará força junto do PSD. Quanto ao sistema eleitoral, será possível que, como disse Rui Rocha, tenham sido perdidos mais de 600 mil votos nas últimas eleições legislativas?

Os números são de um politólogo, Luís Humberto Teixeira, e de um programador, Carlos Afonso, que em 2022 criaram o projecto “omeuvoto.com“, um portal onde cada eleitor português pode verificar se o seu voto elegeu alguém nas últimas legislativas (30 de janeiro de 2022).

Luís Humberto Teixeira, mestre em Política Comparada pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), e Carlos Afonso, CEO da Impulsys, conseguiram, através da informação divulgada no site oficial das eleições, calcular a quantidade de votos que, em 2022, não serviu para eleger qualquer deputado.

“A forma como apuramos os resultados é muito simples: depois de uma pessoa responder às três questões, confrontamos os dados introduzidos com a nossa base de dados, que inclui, eleição a eleição, todas as votações e todos os mandatos conquistados por todos os partidos em todos os círculos a que apresentaram listas. Se, na eleição seleccionada, o voto da pessoa tiver ido para um partido que conquistou um mandato no círculo em causa, a resposta será que o seu voto elegeu alguém. Caso o partido não tenha conquistado um mandato nesse círculo, a resposta será de que o seu voto não elegeu ninguém”, explicam os criadores no portal.

Nas últimas eleições legislativas, foram 730.011 os votos que não foram convertidos em mandatos, o que corresponde a mais de 13% do total de votos válidos. São os chamados votos “desperdiçados” ou “perdidos”, como disse Rui Rocha.

Este é um indicador que vem a aumentar nos últimos anos, notam os criadores, já que, em todas as eleições, “há uma percentagem da votação que é composta por votos válidos não convertidos em mandatos”. Em média, “cerca de meio milhão de votos válidos não são convertidos em mandatos a cada eleição legislativa. A existência de muitos círculos de pequena dimensão é uma das principais responsáveis pela situação”.

São os partidos médios que mais sofrem com esta contagem: PAN, com 73,25% dos votos não convertidos, foi o partido mais prejudicado, seguido pelo Livre (59,49%), pelo Bloco de Esquerda (47,72%) e pela CDU (37,98%). PSD e PS tiveram 0% e 2,57% de votos “desperdiçados”, respetivamente.

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