“Vergonha… numa suposta festa de finalistas do 4.º ano na Amadora, alunos são obrigados a vestir trajes islâmicos e declamam poemas pró-Palestina”, escreveu o deputado do Chega e candidato do partido à Câmara Municipal da Amadora, Rui Paulo Sousa, no X, a 28 de junho.
O vídeo é verdadeiro e mostra um grupo de crianças sentadas junto a um palco, onde uma deles intervém para refletir sobre o ano letivo. Não há uma única referência à Palestina durante o vídeo partilhado pelo deputado (embora exista mais tarde), mas é possível identificar uma fila de crianças a usar uma espécie de keffiyeh preta e branca (ainda que com um quadriculado distinto), que se tornou um símbolo da resistência palestiniana. Rui Paulo Sousa foi várias vezes alertado sobre o facto de o vídeo não ter sido gravado na Amadora, mas nunca corrigiu o “tweet”. Na verdade, é André Ventura que deixa cair essa referência quando partilha o vídeo nas suas redes sociais: “Isto é em Portugal. Os miúdos são obrigados a envergar trajes islâmicos e a recitar poemas pró-palestinianos. Em que se tornaram as nossas escolas? Querem ensinar-lhes liberdade ou a violência e a submissão?”
Mesmo tendo acontecido em Portugal, na Escola Básica de Outeiral, concelho de Ovar (e não na Amadora), a verdade é que esta não passou de uma ação solidária organizada pela escola com os alunos do 3.º ano de escolaridade. A Associação de Pais já repudiou a partilha descontextualizada do vídeo, através de um pequeno comunicado divulgado no Facebook: “Circulou uma publicação falsa nas redes sociais que usa a imagem da escola do Outeiral de forma manipulada e com conteúdo odioso. A Escola e a Comunidade repudiam essa ação e reforçam o compromisso com a paz e com o respeito.”
Rui Paulo Sousa não só errou a localização da escola onde decorreu aquela ação – durante uma festa de finalistas – como sugeriu uma imposição aos alunos, que fica naturalmente por comprovar. Ontem à noite, no NOW, confrontado pelo jornalista sobre esta partilha, afirmou o seguinte: “Quando eles utilizam trajes de origem islâmica e com as cores da Palestina, obviamente que as crianças estão a ser utilizadas para um facto político. As escolas hoje em dia são laicas, tal como o Estado, por isso não se trata de um caso de religião nas escolas. Se estamos em Portugal não se tem de usar trajes islâmicos.”
A Associação de Pais, que tinha publicado no Facebook vários vídeos gravados durante este dia, acabou por apagar todos os que mostravam as crianças que agora surgem – com as caras destapadas – nos perfis de contas associadas ao Chega e à restante extrema-direita portuguesa.
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