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Rui Moreira considerou Circuito da Boavista “importante para o Porto” e agora classifica-o como “capricho do seu antecessor”?

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Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
O atual presidente da Câmara Municipal do Porto explicou, a 19 de agosto, os motivos pelos quais não patrocinaria o regresso das corridas de automóvel à zona da Boavista e designou-as como um "capricho" de quem dirigiu a câmara antes de si. Será que Rui Moreira pensava o mesmo quando foi candidato pela primeira vez à autarquia?

O Circuito da Boavista é um percurso de corridas de automóvel no centro da cidade do Porto, que pode ser utilizado para diferentes provas automobilísticas. Com grande tradição em toda a década de 1950, a partir de 1961 caiu em desuso.

Em 2005, sob a iniciativa da Câmara Municipal do Porto (CMP), liderada por Rui Rio, o circuito foi reativado, tendo-se disputado diversas competições, em regime bienal, até 2013, justamente o último ano dos três mandatos da coligação PSD/CDS. O apoio a estes eventos, na gestão autárquica de Rio, foi exemplificado como o contraponto àquele que deixou de ser dado ao futebol, designadamente à relação estreita entra a autarquia e o Futebol Clube do Porto durante os anteriores 12 anos de governação municipal socialista (1990-2002).

Nesta campanha eleitoral autárquica, Rui Moreira voltou a ser confrontado, no domingo passado, 19 de agosto, com a possibilidade do regresso do Circuito da Boavista, parado desde que é presidente da câmara. É o próprio site de campanha do movimento que encabeça que faz o resumo das suas declarações sobre o tema: “Em declarações à comunicação social no local, o candidato à Câmara Municipal do Porto disse que, se for reeleito, não irá patrocinar o regresso do Circuito da Boavista, devido ao elevado custo do evento para a cidade e pelo facto de o considerar um capricho do seu antecessor na presidência do Município. O Circuito da Boavista, conforme é público, custou cerca de 2,2 milhões de euros aos portuenses (apenas uma edição).”

“Em declarações à comunicação social no local, o candidato à Câmara Municipal do Porto disse que, se for reeleito, não irá patrocinar o regresso do Circuito da Boavista, devido ao elevado custo do evento para a cidade e pelo facto de o considerar um capricho do seu antecessor na presidência do Município”.

E o que disse Rui Moreira sobre o mesmo circuito pouco tempo antes de ser eleito pela primeira vez presidente da Câmara do Porto, já na condição de candidato?

No dia 23 de junho de 2013, em pleno Circuito da Boavista, onde decorriam, nesse fim de semana, as provas, questionado em direto pelo Porto Canal sobre o que se poderia esperar de si – caso fosse eleito presidente – relativamente ao circuito, o então candidato Rui Moreira afirmou: “O Circuito da Boavista – nomeadamente o WTCC – é uma coisa importante para o Porto, principalmente foi feito um grande investimento pela cidade, a cidade fez um grande investimento nos últimos anos, desde 2005, isto começa a ter frutos exatamente na atração de turistas, na imagem que a cidade passa para o exterior através das transmissões televisivas (…) de facto isto tem impacto, vimos pessoas de nacionalidades que normalmente não visitam o Porto, japonesas e tudo mais.”

Durante o debate da última quinta-feira na TVI, que reuniu os principais candidatos à Câmara Municipal do Porto, Ilda Figueiredo, repetente da CDU na corrida à presidência, acusou Rui Moreira de não ter em conta a opinião dos moradores do bairro da Pasteleira. A candidata considerou que há obras "fachada" nos bairros do Porto, dando o exemplo da Pasteleira e argumentando que os moradores "não pediram" as alterações que estão agora a ser feitas.

Na mesma entrevista, Rui Moreira deixou desde logo a continuidade do circuito (das provas naquele modelo) condicionada a alguns fatores, apesar de referir a vontade política de dar seguimento ao evento: “A minha vontade é que, em função deste investimento que foi feito, que o circuito possa continuar daqui a dois anos. Para isso é preciso um conjunto de vontades, é preciso desde logo que o Turismo de Portugal continue a apoiar. Isto tem que ser sustentável, a cidade do Porto não pode fazer eventos insustentáveis (…).”

“A minha vontade é que, em função deste investimento que foi feito, que o circuito possa continuar daqui a dois anos. Para isso é preciso um conjunto de vontades, é preciso desde logo que o Turismo de Portugal continue a apoiar. Isto tem que ser sustentável, a cidade do Porto não pode fazer eventos insustentáveis (…).”

Confrontado pelo Polígrafo com esta contradição, Rui Moreira afirma que as suas declarações em 2013 foram proferidas “num contexto completamente diferente daquele que veio a encontrar já como presidente, nomeadamente em relação às contas do evento”.

Moreira refere ter constatado que o Circuito da Boavista “custou mais três milhões de euros do que o que estava orçamentado, por força da compensação que a câmara ainda teve de pagar à Metro do Porto e aos STCP, contas só conhecidas e saldadas com a administração central aquando do acordo feito com o Governo liderado por Pedro Passos Coelho, em 2015, por causa da expropriação dos terrenos do aeroporto”. Para Rui Moreira a expressão “fazer por capricho tem exatamente o sentido de organizar um evento mesmo sabendo que ele não é sustentável“.

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Avaliação do Polígrafo:

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