“Não passarão”, garante-se num tweet de 15 de março que exibe duas imagens com mensagens ou declarações atribuídas a “R. Matias”, identificada como Rita Matias, deputada do partido Chega. Noutros tweets que partilham as mesmas imagens comenta-se que “a Rita [Matias licenciou-se em Ciência Política e agora vem dizer que as ciências sociais são inúteis”, ou agradece-se (ironicamente) “a todos os que apoiam e votaram nisto”, entre vários exemplos.
De acordo com essas publicações, “relativamente à propagandeada falta de professores”, Matias terá dito que “é um ultraje. Não há falta de professores, pelo contrário, há excesso. O problema está no número de disciplinas ministradas às turmas e o reduzido número de horas que os professores têm no horário. Um horário de um docente deve ser composto por 40 horas letivas semanais. Há disciplinas absolutamente inúteis”.
Por entre diversas frases mais ou menos polémicas, também terá sublinhado que “outra área que irá sofrer profundas alterações é a denominada educação especial. O Estado não pode desperdiçar recursos com essas fraudes pedagógicas. A maioria dos professores do ensino especial não percebe um ‘boi’ do assunto, fez uma formação manhosa para integrar o grupo, sem qualquer vocação para o assunto. Isso é para terminar”.

A deputada do Chega é responsável por estas afirmações?
Não. As mensagens têm origem num chat que se encontra num site intitulado “Blog DeAr Lindo”, descrito como um “blogue sobre a atualidade educativa”, no qual qualquer pessoa pode escrever através de um registo de nome e endereço de e-mail. Não dispõe de qualquer tipo de confirmação de identidade.
Também não se identificam declarações da deputada do Chega em que tenha considerado que há docentes em excesso ou que o respetivo horário de trabalho deva ser aumentado para 40 horas semanais.
Aliás, recuando até ao debate entre Rita Matias e Fabian Figueiredo (do Bloco de Esquerda) em fevereiro deste ano, na rubrica “Dois jotas entram num bar” da CNN Portugal, a posição defendida pela deputada do Chega foi contrária à ideia de que há professores a mais em Portugal.
“É nisto que estamos concentrados? Quer dizer, não há acesso a creches, não há professores e estamos preocupados com as casas de banho mistas nas escolas”, criticou Matias.
Quanto às mensagens ou citações que estão a circular nas redes sociais, a própria Matias já publicou um desmentido. Em resposta a um dos tweets que difunde as imagens, a deputada assegurou que “como é óbvio os prints são falsos“.
Ainda assim, apontou que “as Ciências Sociais albergam demasiados ativistas que escolhem o ensino e investigação como forma de fazer pressão política e social” e que “isso desvirtua por completo o papel do investigador/professor”.
“Por outras palavras, foram os próprios que se tornaram inúteis“, concluiu.

Contactada pelo Polígrafo, Matias reiterou o desmentido lembrando que “a apropriação indevida de identidade é crime e tem sido uma prática recorrente nas redes sociais”.
“Por diversas vezes, contas falsas difundem informação em nome de deputados Chega com o intuito de desmobilizar eleitores, militantes e simpatizantes. Isto é uma forma de ataque à democracia que vai passando incólume. As frases escritas são totalmente falsas e divergem do que o Chega defende, nomeadamente no seu programa eleitoral. O método é especialmente perverso porque misturam ideias defendidas pelo partido com outras totalmente descabidas para confundir a população”, salientou.
“Um chat destinado a professores não seria um espaço óbvio para que estivesse presente, na medida em que nunca leccionei”, finalizou.
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Avaliação do Polígrafo: