“Constatei que o meu nome e imagem estão a ser usados de forma indevida, de forma que me é totalmente alheia. Trata-se de publicidade nas redes sociais para venda de um medicamento para o emagrecimento.” É desta forma que o médico de Saúde Pública e presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, em Lisboa, Ricardo Mexia, começa por esclarecer não ser o autor de um texto de promoção de um suplemento que “garante uma perda de peso de 10 kg em 2 semanas”.
Num post partilhado na sua página de Facebook, o médico expõe o link que remete para a fake news completa. Ao clicar na hiperligação, encontramos uma página com um grafismo semelhante à do jornal Público e um texto supostamente assinado por Ricardo Mexia.
No entanto, um olhar mais atento reparará que o endereço do site (url) não começa por “publico.pt” e que o tom do texto se distancia do utilizado neste jornal. Conclui-se, por isso, de imediato, que a página em causa não é do jornal Público.

Além de o tipo de escrita não corresponder ao estilo deste jornal, também o conteúdo se afasta da forma como Ricardo Mexia costuma comunicar temas relacionados com saúde.
A cada frase deste texto encontramos promessas milagrosas (e falsas) como a garantia de uma perda de “10, 30, 50 ou mais quilos de forma permanente” sem “qualquer alteração na dieta ou no esforço físico”.
“Se pesa agora 100 kg… Em 4 semanas pesará 80 kg e em 8 semanas 60 kg! Garantimos-lhe que começará a perder 10 kg em 2 semanas. Os efeitos foram incontestavelmente confirmados em estudos clínicos envolvendo 27.000 mulheres e homens entre os 18 e os 98 anos de idade”, lê-se no texto em que as promessas de perda de peso rápido são intercaladas com supostos testemunhos de pessoas que teriam verificado estas alterações no seu corpo depois de consumirem o suplemento em causa.
Importa sublinhar, contudo, que – tal como o Viral (o jornal de fact-checking de saúde que pertence à mesma empresa que detém o Polígrafo) já verificou anteriormente – não há nenhum alimento ou suplemento que permita uma perda de peso tão significativa em tão pouco tempo de forma segura.

Outra falsidade nesta trama prende-se com o facto de, na imagem (partilhada por Ricardo Mexia) de um post que remete para esta notícia falsa, o médico ser apresentado como “o melhor nutricionista em Portugal”, quando a sua especialidade é, na verdade, Saúde Pública.
Ao longo do falso artigo encontramos também várias imagens de Ricardo Mexia em programas de televisão e de rádio em que o conteúdo dos oráculos (textos que aparecem na parte inferior do ecrã durante uma emissão) foi adulterado, contendo declarações não proferidas pelo médico nessas entrevistas.
Ricardo Mexia: “Precisamos de melhorar a nossa literacia em saúde”
Na mesma publicação de Facebook em que expõe a fake news, Ricardo Mexia adianta já ter participado a situação “ao Ministério Público e também à Ordem dos Médicos” e informado “o jornal Público” e explica que esta notícia falsa levanta várias questões.
“Além de ser um abuso da minha imagem, atenta contra a minha dignidade profissional, e configuraria uma falta deontológica grave, pois está vedado aos Médicos a venda ou promoção de qualquer medicamento”, sustenta.
Ricardo Mexia apela também aos seus seguidores para denunciarem o post falso: “Sempre que vos surgir, peço que denunciem também o anúncio na plataforma onde o encontraram. Já me fizeram chegar o anúncio no Instagram e no Facebook e pode eventualmente estar também em outras plataformas.”
O médico confessa ter “pouca esperança de que quem está por trás desta fraude seja trazido à justiça, mas pelo menos que não haja mais pessoas a serem burladas com este esquema inqualificável”.
Nesse sentido, Ricardo Mexia conclui que esta fake news é “mais um sinal de que precisamos de melhorar a nossa literacia em saúde, pois há coisas escritas nesta notícia que são flagrantemente falsas e, apesar disso, há pessoas que ficam na dúvida sobre se serão verdade”.
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Avaliação do Polígrafo: