Numa altura em que os hospitais portugueses têm limitado as assistências devido à falta de recursos humanos, Marta Temido chegou ao Auditório António de Almeida Santos, na Assembleia da República, para acalmar os membros efetivos da comissão parlamentar, entre os quais os deputados Ricardo Baptista Leite e António Maló de Abreu, do PSD. Depois de salientar que o Governo do qual faz parte tomou posse há 90 dias, Marta Temido parabenizou todas as escolhas que permitiram que o SNS vencesse a luta contra a Covid-19, mas não sem admitir algumas falhas: “Sabemos bem que o SNS enfrenta problemas na resposta, sobretudo na retenção e motivação dos profissionais de saúde. Os últimos dias têm-no demonstrado.”
A ministra da Saúde adiantou ainda que o novo estatuto do SNS deve ser aprovado na próxima semana, no Conselho de Ministros, mas as garantias não foram suficientes para o social democrata Ricardo Baptista Leite, o primeiro a intervir: “Perante aquilo que temos vivido nas últimas semanas, se nada mais necessitasse, penso que seria importante que a senhora ministra pudesse chegar a esta Assembleia da República e assumir que o Governo falhou no caminho escolhido. E com humildade dizer que é preciso repensar as reformas estruturais. Aquilo a que acabamos de assistir foi uma intervenção de 15 minutos a reafirmar o conjunto de reformas que a senhora ministra já tinha anunciado há quatro anos.”
Depois de recordar a promessa de António Costa de que na passada segunda-feira, 20 de junho, os problemas do SNS estariam resolvidos, Ricardo Batista Leite trouxe ainda à comissão o caso do recém-nascido que morreu no Hospital das Caldas da Rainha: “É importante para as mulheres grávidas que estão em casa a assistir a todo este cenário saibam o que falhou e o que é que foi corrigido. Isto toca, inevitavelmente, a questão da mortalidade materna. Portugal apresentou, para 2020, a pior taxa de mortalidade materna dos últimos 38 anos. Desde 1982 que não assistíamos a uma taxa de mortalidade [tão alta]. Foram 17 mulheres que morreram ou durante a gravidez, ou durante o parto ou durante o puerpério (até 42 dias após o parto)”, referiu o deputado, alertando para a tendência que se verifica já desde 2019.
“É importante para as mulheres grávidas que estão em casa a assistir a todo este cenário saibam o que falhou e o que é que foi corrigido. Isto toca, inevitavelmente, a questão da mortalidade materna. Portugal apresentou, para 2020, a pior taxa de mortalidade materna dos últimos 38 anos. Desde 1982 que não assistíamos a uma taxa de mortalidade [tão alta]”.
O Polígrafo consultou os mais recentes dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística, relativos a 2020 e atualizados no dia 25 deste mês: Foram, nesse ano, 19 as mulheres que morreram devido a complicações relacionadas com a gravidez, parto e puerpério. Dados não se encontram especificados e já diferem dos que foram noticiados no final de maio deste ano pelo “Jornal de Notícias” (na altura registavam-se 17 mortes).
Ora, ainda que o número já tenha aumentado, a verdade é que a taxa de mortalidade materna, tendo em conta que, em 2020, se registou em Portugal o nascimento de 84.426 nados-vivos, filhos de mães residentes em território nacional, rondou os 22,5 óbitos por 100 mil nascimentos. De acordo com os dados do INE remetidos ao Polígrafo, é preciso recuar 38 anos, até 1982, tal como referiu Batista Leite, para encontrar um número tão elevado.
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Avaliação do Polígrafo: