Um acordo celebrado esta terça-feira entre o Estado e a Mutares concluiu o processo de venda da Efacec, com 71,73% do capital a seguir para as mãos do fundo alemão, que entrou com 15 milhões de euros e 60 milhões para empréstimo. António Costa Silva, ministro da Economia, considerou este “um dia feliz para a economia portuguesa”, mas terá sido uma feliz também para os portugueses?
Os liberais foram os primeiros a avançar com o pedido de um inquérito parlamentar, depois de acusarem o Executivo de ter injetado, através do Estado, um total de 400 milhões de euros na empresa, apenas para a venderem. À direita e mais cauteloso, PSD aguarda que o Governo esclareça a fundo todos os detalhes do negócio. Entretanto, utilizadores do X aproveitam os valores mencionados pelo Iniciativa Liberal e apontam para um custo “provisório” de 40 euros a cada português. As contas pecam por grosseiras, mas não estão longe da realidade.
Desde pelo menos abril de 2022 que o Estado português injeta mensalmente na Efacec 10 milhões de euros: a informação, que já tinha sido noticiada por vários meios, foi confirmada esta quarta-feira pelo secretário de Estado das Finanças, João Nuno Mendes, que calculou que, até agora, os cofres públicos colocaram “10 milhões de euros por mês nos últimos 20 meses” na empresa, o que configura uma despesa total de 200 milhões de euros.
A este montante o Estado vai agora juntar 160 milhões de euros num último esforço para garantir a venda à Mutares. O acordo com a holding alemã prevê ainda a subscrição de obrigações convertíveis em 35 milhões de euros, pelo Banco Português de Fomento, através do Fundo de Capitalização e Resiliência. E é já com esta garantia que o Governo acredita que poderá recuperar o investimento.
De acordo com o “Dinheiro Vivo”, tendo em conta que “o fundo de investimento germânico opera numa lógica de rentabilização de ativos e posterior venda, o Governo assumiu que a Efacec será vendida, futuramente”. Esta venda, que nunca poderá acontecer em menos de três anos, pode garantir ao Estado português “dois terços (66%) do valor da venda”. Na conferência de imprensa desta quarta-feira, António Costa Silva e João Nuno Mendes adiantaram que a venda deverá ser feita ao fim de cinco anos.
Contas feitas, e descartando por completo o montante que o Governo prevê receber no período pós-venda, o Estado assumiu uma exposição total de 395 milhões de euros à Efacec. Se tivermos em conta os acionistas minoritários, os obrigacionistas e os bancos, estas contas podem mesmo ascender aos 513 milhões de euros.
No X, as contas foram de dividir: 395 milhões de bolo total (numa população que ronda, segundo os últimos censos, os 10,33 milhões de pessoas) resultam em fatias de 38 euros (dois euros abaixo do valor indicado pelo autor do “tweet”). Ou seja, a informação é verdadeira. Para mais, o autor do “tweet” menciona o carácter “provisório” do custo na carteira dos contribuintes, deixando a porta aberta à recuperação de parte do montante.
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Avaliação do Polígrafo: