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Rede pública de carregamento de carros elétricos tem dois preços diferentes e atendimento por telefone só em espanhol?

Sociedade
O que está em causa?
Preços diferentes, falta de informação e nenhum apoio telefónico em português? Um vídeo partilhado no Youtube garante que é assim que funciona a rede de carregamento de carros elétricos em Portugal. Confirma-se?

No dia 6 de julho, um vídeo publicado no YouTube denunciou problemas na rede de carregamento de carros elétricos em Portugal, especialmente nos postos da Iberdrola. O vídeo, que suscitou dúvidas, exibe dois carros elétricos, um Audi e um Mercedes, a serem carregados no mesmo posto. 

Segundo o vídeo, a potência anunciada de carga é de 150 kW. No entanto, essa informação não é absolutamente correta, pois a potência total só pode ser recebida por um veículo se o posto não estiver a ser partilhado. No caso em questão, um dos veículos foi prejudicado.

O vídeo também chama a atenção para dois preços diferentes no mesmo posto: 28 cêntimos por kW no visor e 30 cêntimos por kW num autocolante, ambos acrescidos de IVA. Além disso, ao contactar o serviço de apoio ao cliente, este só estava disponível em espanhol. 

Confirma-se que a rede pública de carregamentos tem dois preços diferentes?

Relativamente à questão do preçário, o Polígrafo contactou a Mobi.E, Entidade Gestora da rede de Mobilidade Elétrica em Portugal, que justificou que sim, existem dois preços diferentes, mas que no caso em concreto se tratou de um “lapso”.

Começando pelos dois preços distintos, a empresa explica que “existem duas formas de carregar o veículo elétrico”, logo haverá “dois tipos de preçários constantes nos postos”. A primeira é “através do contrato estabelecido entre o utilizador e o Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME), que lhe dá acesso automático a toda a Rede de Pontos de Carregamento dos Operadores Privados integrados (responsáveis pelo instalação e manutenção dos equipamentos)”. Nesta situação não é necessário “estabelecer novos contratos ou instalar várias apps, sempre que aceda a um posto novo ou de uma rede diferente”.

Ora, “para o utilizador, além do tarifário estabelecido com o CEME, existe um tarifário de acesso a cada um dos postos (tarifário de operação) estabelecido pelo Operador, que se pode refletir depois no preço final a pagar pelo utilizador ao seu CEME”, sendo que este valor “deverá estar afixado no posto de carregamento, por norma no visor ou na forma de um autocolante”.

A segunda forma é “o carregamento ad_hoc, através de um terminal multibanco ou um QR code, não havendo necessidade de esse utilizador se registar, celebrar um contrato por escrito ou estabelecer uma relação comercial”. Também aqui o tarifário “deverá estar igualmente afixado no posto, junto ao terminal, ou via web após scan do QR code”.

Assim, “é possível que num posto de carregamento estejam afixados dois tarifários distintos: o tarifário de operação, que todos os postos são obrigados a ter, e o tarifário ad_hoc, naqueles que os disponibilizem”.

No caso denunciado no vídeo, a empresa contactou Operador do Ponto de Carregamento e verificou que o preço correto é o apresentado no visor. “Foi-nos referido que o autocolante com o segundo tarifário, tratava-se de um tarifário de operação antigo que, por lapso, ainda não tinha sido removido nessa data”, refere a Mobi.E ao Polígrafo com a indicação de que o autocolante já não está visível.

E o atendimento por telefone só em espanhol?

Sim. Atualmente, o idioma utilizado no atendimento telefónico daquele operador em concreto é o castelhano, isto porque o operador é novo no mercado português segundo confirmou a Mobi.E. Ainda assim, a empresa explicou ao Polígrafo que o operador “se encontra em fase de transição para a linha de apoio no idioma português“.

Acresce ainda informar que são mais de 90 as linhas de atendimento dos Operadores de Pontos de Carregamento e não são todas as que têm como único idioma o castelhano.

Por último, quanto à potência anunciada de carga, a Mobi.E esclarece que “os 150 kW são a potência máxima admissível, que varia consoante o tipo de veículo que carrega”. Ou seja, “existem muitos veículos elétricos no mercado que não conseguem atingir esses valores de potência, devido ao carregador interno que possuem”.

No caso de carregamento partilhado, a empresa afirma que é “importante o Operador do Ponto de Carregamento garantir que existe essa informação localmente, de forma a manter a transparência junto do utilizador”.

Perante a exposição do caso, a entidade contactou o operador que, em resposta, indicou que “a informação está presente no local, através de um autocolante” em que se informa que “ao carregar simultaneamente com um conector CCS, a potência de carregamento poderá diminuir“.

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Nota Editorial: Artigo corrigido no dia 15 de julho, às 11h55, com o esclarecimento de que não são todas as atendimento telefónico que se encontram em castelhano. A explicação dada ao Polígrafo pela Mobi.E dizia apenas respeito àquele posto em concreto, facto que não estava claro na primeira versão do artigo, agora corrigida.

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Avaliação do Polígrafo:

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