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Recomenda-se no Facebook: “Abrir as janelas do automóvel antes de ligar o ar condicionado”

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Diz-se com alguma frequência que, quando o carro está estacionado e fechado durante algum tempo, deve-se baixar os vidros - e mantê-los abertos durante alguns minutos - antes de se ligar o ar condicionado. É verdade? Sim, é aconselhável fazê-lo para o bem da saúde do condutor e dos passageiros.

“Quando estacionamos o carro no sol, com as janelas fechadas, o nível de benzeno, substância tóxica que afeta o rim e o fígado, fica, em média, mais de 40 vezes que o nível aceitável! Essa substância é extremamente difícil de ser expulsa pelo organismo. O ideal é que ao entrar no carro, deixemos as janelas abertas por no mínimo 2 minutos, para que o ar possa circular, e só depois liguemos o ar condicionado”, salienta-se numa publicação partilhada no dia 27 de maio.

De facto, deve abrir-se os vidros de um veículo que esteve fechado durante algumas horas, antes de ligar o ar condicionado. O pneumologista João Carlos Winck, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), explica ao Polígrafo que abrir os vidros de um automóvel é uma boa forma de reduzir os níveis de dióxido de carbono (CO2) que se acumulam, devido à respiração dos passageiros. “O CO2, quando em níveis elevados, pode provocar sonolência, o que pode aumentar o risco de acidente”, alerta.

“Por outro lado, quando abrimos as janelas dos automóveis no meio de um trânsito intenso, no centro de uma cidade com níveis altos de poluição atmosférica, corremos também o risco de aumentar os níveis de poluentes no seu interior (nomeadamente monóxido de carbono, partículas finas, metais pesados, compostos voláteis incluindo o próprio benzeno)”, esclarece o médico.

“O CO2, quando em níveis elevados, pode provocar sonolência, o que pode aumentar o risco de acidente”, alerta.

De acordo com João Carlos Winck, também pode ocorrer “a chamada ‘auto-poluição’, gerada pelo próprio veículo” que impacta a “qualidade do ar no interior dos veículos, especialmente se se tratar de um automóvel a diesel”. No verão principalmente, quando entramos num carro, clarifica o especialista, “se mantivermos as janelas abertas a meio e depois ligarmos o ar condicionado, o ar quente que se acumulou no seu interior irá sair mais depressa e a temperatura baixará mais rapidamente”.

Fonte oficial do Automóvel Club de Portugal (ACP) acrescenta que “quando entramos no carro, estacionado ao sol, e com os vidros fechados, o ar que está dentro do automóvel está mais quente que a temperatura exterior. Há por isso vantagem em abrir as janelas do carro e ligar o ar condicionado, pois o ar que está dentro das condutas de ar também está quente e o sistema não arrefece instantaneamente. Por essa razão devemos ter os vidros abertos até começar a vir ‘frio’ das condutas”.

Um automóvel fechado ao sol pode libertar uma “substância tóxica” chamada “benzeno”?

Realmente, de acordo com o especialista da FMUP, “o benzeno é um composto volátil com comprovada toxicidade para os seres humanos. A Agência Internacional de Investigação no Cancro (IARC), desde 1979, reconhece o seu potencial carcinogénico”. Os interiores dos automóveis podem libertar vestígios de benzeno (especialmente em tempo quente), mas as quantidades são insignificantes.

“Diferentes fatores, como a temperatura interior, a taxa de ventilação e o modo, a humidade, a radiação solar, a idade e a qualidade do veículo, o valor da cabine, o material de estofos do automóvel e a distância de viagem, influenciam as concentrações de benzeno dentro de um veículo. Por outro lado, concentrações mais baixas de hidrocarbonetos aromáticos, como o benzeno, estão associadas a bancos de tecido em comparação com bancos de couro e veículos com cabines de maior volume”.

“Diferentes fatores, como a temperatura interior, a taxa de ventilação e o modo, a humidade, a radiação solar, a idade e a qualidade do veículo, o valor da cabine, o material de estofos do automóvel e a distância de viagem, influenciam as concentrações de benzeno dentro de um veículo”.

O pneumologista sublinha ainda que uma das fontes mais difundidas de benzeno no ar interior é o fumo do tabaco. “Outras fontes de benzeno incluem os gases de escape dos veículos, a evaporação dos veículos a motor, pontos de venda de combustível e emissões industriais”, exemplifica.

Assim, as fontes de benzeno no interior dos veículos provêm fundamentalmente do fumo do tabaco dos passageiros e, no exterior, através da poluição atmosférica. Do ponto de vista de Winck “o potencial risco associado à inalação de benzeno e outros poluentes é significativamente maior para pessoas que passam mais tempo nos seus veículos, especialmente em zonas congestionadas pelo tráfego”.

O que pode ser feito para evitar que substâncias nocivas afetem as pessoas nos seus veículos?

A resposta do médico é clara: “o que devemos fazer é o uso inteligente da ventilação interior dos veículos, para reduzir tanto a instilação de contaminantes externos, como a acumulação de poluentes gerados no interior”.

“O potencial risco associado à inalação de benzeno e outros poluentes é significativamente maior para pessoas que passam mais tempo nos seus veículos, especialmente em zonas congestionadas pelo tráfego”.

O ACP explica que o sistema de ar condicionado é “um circuito fechado e para funcionar corretamente não pode ter fugas. Caso elas existam, na sua grande maioria na parte exterior, o radiador da frente junto ao pára-choques da viatura pode libertar um gás frigorífico tóxico, mas a percentagem é muito reduzida. A título de exemplo, um carro utilitário tem no seu circuito 500g de gás. Se a fuga for grande, rapidamente se dilui na atmosfera”. Para evitar essas situações, o condutor deverá verificar o nível de carga de gás no circuito de ar condicionado e perceber se existem fugas de forma a poder tratá-las.

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Avaliação do Polígrafo:

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