“Ramalho Eanes despiu o fato de Presidente da República e foi ajudar, juntamente com a população, no combate aos fogos. Outros tempos, outros protagonismos”, lê-se numa publicação partilhada nos últimos dias, esta por Luc Mombito, numa crítica com destino a Belém.
Os tempos eram, de facto, outros: estávamos em 1980 quando um incêndio florestal deflagrou junto de uma povoação na Serra da Lousã. A RTP, em reportagem, contava a história assim: “A desconfiança entre o Governo e o Presidente da República é cada vez mais acesa. Cada uma das partes esforça-se para que a outra não transponha as fronteiras das competências.”
É precisamente durante esta última frase que a câmara filma Eanes a saltar de uma vala para se aproximar de uma zona a arder. Por enquanto, ainda está de fato. É com ele que começa a apagar as chamas com ramos de eucalipto. Uns segundos depois, Eanes é visto, já sem blazer, junto a militares da GNR e outros civis, que se reunem perto de pilhas de madeira.
Depois, a calma: um homem é visto a transmitir, via rádio, uma ordem do então Presidente da República que manda que sejam enviados “imediatamente” aviões para combater o incêndio. Numa última imagem, Eanes é acompanhado pelo jornalista da RTP que lhe pergunta se não correu um “grande perigo”. A resposta é, ainda hoje, citada em várias publicações que homenageiam o antigo Chefe de Estado: “Não. O que era preciso era acalmar as pessoas.”
O jornalista insiste e fala pelo “o povo” que “se queixa da falta de resposta dos bombeiros”. Eanes não desenvolve: “Talvez o sr. ministro da Administração Interna possa dizer alguma coisa sobre isso.”
“Como é que devo interpretar as palavras do sr. Presidente?”, questiona o repórter. “É preciso olhar para estas coisas de uma maneira planeada, programada, e creio que isso é responsabilidade de todos nós”, responde Eanes, que é ainda visto a lavar a cara com água de um balde, que lhe é oferecida por uma habitante.
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