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Quatro meses depois, Chega repete mentira sobre suposta mesquita financiada pelo PRR em Sintra

Política
O que está em causa?
A pouco tempo das autárquicas, com Rita Matias na frente da candidatura do Chega à Câmara Municipal de Sintra, o partido recicla uma mentira divulgada em fevereiro deste ano sobre a construção de uma mesquita islâmica totalmente financiada pelo PRR.
© EPA/António Cotrim

A “notícia” não é nova e os seus autores são exatamente os mesmos: em fevereiro, uma peça divulgada no “Folha Nacional”, jornal oficial do Chega, foi desmentida pelo Polígrafo por veicular informação falsa sobre a utilização de fundos do PRR “para construir mesquitas em Portugal”.

Na altura, o texto tinha por base uma “denúncia” sobre o recurso a “fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) da União Europeia na construção de mesquitas em Portugal” e incluía três parágrafos de informação não confirmada, onde se sugeria que uma obra na Tapada das Mercês, em Mem Martins, para construção de uma mesquita estava a avançar com dinheiro europeu: um total de 200 mil euros.

“A obra está a ser realizada pela Fundação Islâmica de Palmela (FIP), em parceria com a Câmara Municipal de Sintra, que em 2020 assinaram um contrato para a construção de uma mesquita e uma escola internacional num terreno urbano no concelho de Sintra. A primeira fase da construção já teve a sua estrutura da mesquita concluída, com 1.200 m², e incluirá uma cozinha social, um refeitório e várias salas de formação, sendo que parte do financiamento, no valor de 200.900 euros, vem do PRR”, lia-se no artigo partilhado pela “Folha Nacional”.

Agora, numa nova publicação, a “Folha Nacional” já menciona um total de 366 mil euros entregues à FIP para “construir uma mesquita em Mem-Martins”. “De acordo com uma ficha de projeto, de nome ‘Operação Integrada Local Freguesia de Algueirão Mem Martins’, publicada no portal ‘Mais Transparência’, a que o Folha Nacional teve acesso, a Fundação Islâmica de Palmela (FIP) recebeu cerca de 22,8%, ou seja, 83,5 mil euros de um investimento de 365,6 mil euros”, lê-se no artigo.

Desde logo, o jornal oficial do partido declara ter tido “acesso” a informação… pública. Qualquer cidadão pode, a este dia, consultar todos os beneficiários e todos os projetos financiados pelo PRR, sem que para isso tenha que pedir acesso a algum tipo de informação privada. E apesar de recorrer ao “Mais Transparência” para sustentar a sua tese, é na verdade este portal que desmente a narrativa do Chega.

Tal como dizia ao Polígrafo a Câmara Municipal de Sintra em fevereiro deste ano, a FIP é uma das entidades parceiras da Operação Integrada Local – Algueirão Mem Martins, “com dois projetos financiados pelo PRR, e por recursos próprios, abertos a toda a população”. São eles um refeitório social e um estabelecimento pré-escolar, com um financiamento do PRR de 200.900 euros e 147.350 euros, respetivamente. “Ambos os projetos foram apreciados e aprovados pela AML e pela Estrutura de Missão Recuperar Portugal”, acrescentou à data a CMS.

Apesar de a ter ignorado, a distribuição dos valores também está disponível no “Mais Transparência”: além dos 248 mil euros destinados aos dois projetos que já mencionámos, a FIP tem ainda mais cerca de 17 mil euros em apoio para a criação de emprego estável.

Este refeitório social financiado pelo PRR terá 144 lugares e resulta, segundo a CMS, “do diagnóstico local quanto às carências alimentares das famílias em situação de vulnerabilidade socioeconómica”, pretendendo dar resposta a 350 cidadãos residentes na Tapada das Mercês.

“Outra das situações identificadas foi a necessidade de reforçar a oferta de ensino pré-escolar. A criação de um estabelecimento pré-escolar permitirá assegurar o acesso de 50 crianças, e famílias, a uma resposta socioeducativa que o ensino público não tem ainda capacidade para absorver a 100%”, disse ao Polígrafo a mesma fonte. Mais uma vez, o Refeitório Social e o Pré-escolar são “projetos autónomos” e é com esse estatuto que são objeto dos programas do PRR.

A mentira criada e divulgada no seio do partido já gerou frutos: o Chega venceu em Sintra nas legislativas de maio e as declarações feitas por moradores ao jornal “Sol” são esclarecedoras: “Esta gente que vem para aqui em excesso também não respeita as mulheres. Há aqui muitas mulheres a passar de burca, só se vê os olhos. Vocês querem isso para o vosso país? As pessoas também estão completamente revoltadas com a mesquita que está a ser construída com dinheiros de um fundo europeu.”

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Avaliação do Polígrafo

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