Durante o debate em que foi discutida a segunda moção de censura ao Governo no espaço de duas semanas, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, condenou o Executivo por ter uma governação marcada pelo desrespeito na separação entre os interesses privados e o público, destacando a subida nos preços das casa e as dificuldades que os portugueses enfrentam com a crise habitacional.
“Senhor Primeiro-Ministro, eu dir-lhe-ei as razões do BE para votar contra a moção de confiança que o Governo vai apresentar: votamos contra porque um Primeiro-Ministro que não quer dar explicações não pode ser Primeiro-Ministro e votamos contra porque não respeitou a separação entre os interesses privados e o público. Aliás, essa uma marca da governação do PSD. Temos as casas mais caras da OCDE, quase ninguém consegue pagar uma renda ou uma casa, mas o Governo entende impor uma lei dos solos que abre a porta à especulação nos solos rústicos”, destaca Mariana Mortágua.
A alegação de que Portugal tem as casas mais caras da OCDE tem fundamento e foi, inclusive, notícia no jornal “Expresso” a 20 de fevereiro. Portugal está em primeiro lugar na lista de países da OCDE onde é mais difícil comprar casa. No entanto, a deputada esqueceu-se de um detalhe: as casas são as mais caras tendo em conta os salários.
Os dados mais recentes da OCDE – do terceiro trimestre de 2024 – revelam que nunca foi tão difícil ter uma casa em Portugal, desde pelo menos 1995 (primeiro ano desde que há registo).
A conclusão do índice de acessibilidade habitacional– que mede a relação entre a evolução dos preços das casas e a evolução dos rendimentos – mostra que, no terceiro trimestre do ano passado, Portugal atingiu os 157,7 pontos. Este não só é o valor mais alto desde que a OCDE tem dados para o país, como é também o mais alto entre os 30 países da organização.
Este número é 36% superior à média da OCDE (115,7 pontos) e está 50% acima da média da Zona Euro (104,7 pontos).
Nos últimos dez anos, Portugal registou a maior degradação no acesso à habitação entre os países da OCDE. Entre 2014 e 2024, verificou-se um aumento de 135,2% do índice do preço da habitação, enquanto os rendimentos médios cresceram apenas 33%. Percebe-se assim que os preços das casas aumentaram quatro vezes mais que o rendimento médio na última década.
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