Em agosto de 2022, Marta Temido, então ministra da Saúde, abandonava o Governo de António Costa depois de uma mulher de 34 anos, grávida de 31 semanas, morrer na sequência de uma paragem cardiorrespiratória de 17 minutos durante uma transferência de ambulância do Hospital de Santa Maria para o São Francisco Xavier. A transferência foi obrigatória uma vez que o Santa Maria não tinha vaga no Serviço de Neonatologia para internar o bebé, assim que se procedesse ao parto.
Não tendo sido a voz do PSD sobre o tema, Luís Montenegro comentou (a 2 de setembro) a demissão de Temido na sequência deste caso (que já tinha sido pedida pelo PSD noutras situações), deixando um alerta a António Costa: “São tudo indícios, infelizmente, de que temos um Governo hesitante, um Governo que não tem rumo, um Governo que não tem capacidade, nem vontade transformadora, nem reformista. Não é preciso ser dotado de grande capacidade para perceber que se a política continuar a mesma, os resultados vão ser iguais ou piores.”
Miguel Pinto Luz, o autor da declaração oficial do partido sobre a demissão da ministra, foi mais duro: “Esta demissão representa muito mais do que a saída de uma ministra. Esta demissão representa a falência da política de saúde do governo, do Partido Socialista e do Primeiro-Ministro António Costa. Esta demissão representa a assunção, do estado em que estes sete anos de governação Socialista, deixaram a saúde em Portugal.”
Segundo Pinto Luz, “o Governo desenvolveu uma política de saúde, em que o custo cresceu, mas em que a qualidade do serviço diminuiu muito. Foram gastos milhões e milhões de euros, mas as urgências estão fechadas e as consultas, exames ou operações adiados”. Este Governo, criticava, “pela mão de Marta Temido, mas sempre com a concordância de António Costa, criou um caos nas urgências de obstetrícia. Numa situação absolutamente vergonhosa, obrigou a que grávidas fizessem centenas de km para dar à luz”.
“Infelizmente, foi preciso que morresse uma mãe que não teve acesso às urgências no maior hospital do país, para que a Ministra resolvesse sair. Uma ministra que teve sempre o máximo apoio do Primeiro Ministro. Uma ministra que nunca soube dialogar com médicos, enfermeiros ou qualquer profissional de saúde. Que nunca soube distinguir entre o que eram as suas convicções e as verdadeiras necessidades dos portugueses. Uma ministra que pôs sempre a sua ideologia à frente daquilo que era mais importante, a Saúde dos portugueses”, considerou.
As palavras são agora estranhas a um PSD que defende Ana Paula Martins e que a prende ao Governo mesmo depois de graves problemas na saúde nos últimos dias. É certo que os sociais-democratas admitiam que a demissão da ministra não resolvia “problema nenhum”, mas também é verdade que, em junho de 2022, eram eles quem a pediam, pela voz do líder parlamentar do partido: “O que é que é será mais preciso que aconteça para que, como até já foi pedido por pessoas do seu partido, o Primeiro-Ministro reconheça a responsabilidade política da ministra da Saúde e a substitua por incapacidade de gestão ou de promover reformas que mantenham o nível do SNS?”
Paulo Mota Pinto, agora afastado do Parlamento, dirigia-se ao Governo, em discussão na AR, e perguntava diretamente a António Costa se, afinal, a opção e a responsabilidade política eram do Primeiro-Ministro.
Agora, depois de a 6 de novembro começarem a ser noticiados casos de morte por atraso de assistência médica (fruto de greve dos tripulantes), uma conta que já subiu para onze vítimas mortais, Luís Montenegro manteve a opinião pessoal, mas virou o jogo quanto à posição do PSD. Agora, já não há pedidos de demissão: “A consequência política, quando há problemas, é resolvê-los. A consequência política não é, para ser direto a responder à sua pergunta, mudar pessoas para o problema continuar. É o contrário: resolver o problema para que possamos continuar cada vez mais a prestar um bom serviço.” A Miguel Pinto Luz ainda não foi dada a palavra.
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Avaliação do Polígrafo: