O primeiro jornal português
de Fact-Checking

PSD fez acordo com PS sobre pacote anticorrupção em 2021 mas Governo da AD acaba de anunciar que ministra da Justiça vai apresentar nova estratégia?

Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
No X/Twitter salienta-se que a ex-ministra da Justiça (Francisca Van Dunem) destacou o "enorme êxito" da "estratégia contra a corrupção", aprovada em 2021 com base num acordo entre PS e PS, mas no dia seguinte o Governo da AD anunciou que a ministra da Justiça (Rita Júdice) vai apresentar uma nova "estratégia contra a corrupção".
© Agência Lusa / João Relvas

“Ontem a ex-ministra da Justiça explicou no ‘Expresso’ o enorme êxito da consensual estratégia nacional contra a corrupção; hoje anunciam que a nova ministra da Justiça tem dois meses para apresentar a nova e sempre consensual estratégia nacional contra a corrupção”, escreveu Nuno Garoupa, professor de Direito na Universidade George Mason nos EUA (e ex-presidente da FFMS), em publicação de 3 de abril no X/Twitter.

Referia-se, no primeiro caso, a um artigo de opinião que Francisca Van Dunem, ministra da Justiça entre 2015 e 2022, publicou no jornal “Expresso” a 2 de abril (pode consultar aqui). Sob o título “António Costa: uma estranha ironia”, a ex-ministra garante que “no Portugal democrático” não houve “outro decisor político que tenha ido tanto para além das palavras no combate à corrupção“.

Num artigo em que faz uma espécie de balanço das medidas contra a corrupção que foram tomadas durante o período de governação de Costa, com a sua participação na pasta da Justiça, Van Dunem realça a aprovação em 2021 de uma Estratégia Nacional Anticorrupção, da qual fazem parte o Regime Geral de Prevenção da Corrupção e o Mecanismo Nacional Anticorrupção, “a operar essencialmente na vertente preventiva e na recolha e tratamento de informação”.

Salienta também que “foram adotadas medidas legislativas visando favorecer a quebra dos pactos de silêncio entre corruptores e corrompidos, a separação de processos, para evitar os megaprocessos e a facilitação da produção de prova em julgamento”, considerando que “terá sido, porventura, a maior e mais integrada intervenção legislativa orientada para a prevenção e repressão da corrupção, desde 2002″.

Daí a “estranha ironia histórica das circunstâncias” da demissão de Costa – suspeito de alegada prática de crime de prevaricação no âmbito da “Operação Influencer” – que Van Dunem sinaliza na conclusão do texto.

As iniciativas legislativas referidas por Van Dunem resultaram, de facto, de uma concertação ao nível parlamentar entre o PS e o PSD, o que valida o termo “consensual” invocado por Garoupa no tweet em causa. Ou pelo menos foi “consensual” entre os dois maiores partidos. O diploma que ficou conhecido como “pacote anticorrupção”, segundo noticiou a Agência Lusa a 19 de novembro de 2021, “passou inicialmente sem votação no plenário para sede de especialidade, onde foi atualizado com um texto de substituição coordenado por PS e PSD, num trabalho essencialmente desenvolvido pelas deputadas Cláudia Santos (PS) e Mónica Quintela (PSD)”.

Entretanto, ao discursar na cerimónia de tomada de posse do novo Governo da AD, a 2 de abril, no Palácio Nacional da Ajuda, o Primeiro-Ministro Luís Montenegro anunciou: “Irei propor a todos os partidos com assento parlamentar a abertura de um diálogo com vista a fixar uma agenda ambiciosa, eficaz e consensual de combate à corrupção.”

Aliás, Montenegro definiu mesmo um prazo de “dois meses”, tal como referiu Garoupa. “O objetivo é no prazo de dois meses ter uma síntese de propostas, medidas e iniciativas que seja possível acordar e consensualizar, depois de devidamente testada a sua consistência, credibilidade e exequibilidade”, afirmou.

E logo no dia seguinte, após a primeira reunião do Conselho de Ministros no Palacete de São Bento, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, informou que o Governo decidiu mandatar a ministra da Justiça, Rita Júdice, para iniciar um processo de diálogo com todos os partidos com assento parlamentar – além “dos agentes do setor e a sociedade civil” – com o objetivo de aprovar “um pacote de medidas para combater a corrupção“.

______________________________

Avaliação do Polígrafo:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Em destaque