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PS votou contra classificação de bombeiro como profissão de desgaste rápido (onde se insere, por exemplo, a de bailarino)?

Política
O que está em causa?
Projeto de lei do PAN entrou na Assembleia da República (AR) ainda em agosto de 2022, mas só foi votado na generalidade em julho do último ano: nessa ocasião, socialistas aprovaram o reconhecimento aos bombeiros profissionais do estatuto de profissão de risco e de desgaste rápido. Em janeiro deste ano, porém, na especialidade, votaram contra a iniciativa do PAN.

A conquista não durou mais que alguns meses: com uma iniciativa que atribuía “aos bombeiros profissionais o estatuto de profissão de risco e de desgaste rápido” e que reconhecia “aos bombeiros voluntários o direito à reforma antecipada”, o PAN conseguiu, numa fase inicial, o apoio de quase todas as bancadas (abstenção do PSD e do Iniciativa Liberal).

No documento assinado por Inês Sousa Real, o partido ambientalista justifica a alteração aos antigos decretos-lei pelo facto de os corpos de Bombeiros serem “responsáveis pelo cumprimento de 90% das missões de proteção civil em Portugal”, desempenhando “a sua missão sob grandes riscos e, na maioria dos casos, abdicando dos seus tempos livres em prol da comunidade”.

É certo, como nota o PAN, que, na sequência dos incêndios de 2017, deu-se início a um “conjunto de avanços dos quais se destaca o Decreto- Lei n.o 64/2019, de 16 de maio, que reconheceu alguns benefícios e regalias importantes aos bombeiros voluntários, ou Decreto-Lei n.o 87/2019, de 2 de julho, que reconheceu aos bombeiros profissionais o direito a condições especiais de acesso e cálculo das pensões”. Tudo bastante “aquém daquilo que os bombeiros mereciam”, considera o partido representado por Sousa Real no Parlamento.

Em causa na proposta estavam a atribuição aos bombeiros profissionais do estatuto de profissão de risco e de desgaste rápido, a que se junta a atribuição do direito a um suplemento remuneratório de risco, penosidade e insalubridade; o aumento de 15% para os 25% da bonificação prevista para efeitos de contagem do tempo de serviço para todos os bombeiros; a reposição do direito dos bombeiros profissionais da administração local à aposentação em certas idades, sem penalização; e a redução em seis anos da idade de acesso à pensão, bem como ao seu complemento, pelos bombeiros voluntários que tenham, pelo menos, trinta anos de efetividade de serviço.

No regime de profissão de desgaste rápido estão, a título de exemplo, os profissionais de bailado (na lei desde 2019). Identificados no Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (CIRS), mais concretamente no Artigo 27.º do Decreto-Lei n.º82-E/2014, estão ainda os praticantes desportivos, os mineiros e os pescadores.

Os benefícios em sede de IRS incluem deduzir ao rendimento “as importâncias despendidas pelos sujeitos passivos que desenvolvam profissões de desgaste rápido, na constituição de seguros de doença, de acidentes pessoais e de seguros de vida que garantam exclusivamente os riscos de morte, invalidez ou reforma por velhice, neste último caso desde que o benefício seja garantido após os 55 anos de idade, desde que os mesmos não garantam o pagamento e este se não verifique, nomeadamente, por resgate ou adiantamento, de qualquer capital em dívida durante os primeiros cinco anos, com o limite de cinco vezes o valor do IAS”.

E sim, os bombeiros (municipais e sapadores) também têm benefícios associados ao facto de serem uma profissão de desgaste rápido, mas, como não foi ainda legislada, ficam reduzidos à idade da reforma. Para o PS, único partido a votar contra a proposta do PAN na especialidade, a “iniciativa em apreço merecia ser considerada em três dimensões distintas”.

É isto que se lê na ata, fornecida ao Polígrafo pelo GPPS, da Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão (CTSSI), de 10 de janeiro, dia em que foi votado o projeto. Para o socialista Fernando José, o foco deveria ser “a valorização dos bombeiros, que vinha sendo feita ao longo dos últimos 8 anos, e que não passava só pelo reconhecimento do seu desgaste rápido, mas também pelo subsídio que tangia ao trabalho noturno e por turnos”.

Mas não só: “Evitar que a desejada classificação fosse atribuída de forma casuística, o que motivara a criação de um Grupo de Trabalho transversal, coordenado pelas Secretarias de Estado do Trabalho (SET) e da Segurança Social (SESS) e alargado a outros organismos do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) e até à Direção Geral da Saúde (DGS), ressalvando que estava prevista a apresentação de resultados até ao final de 2023, aguardando-se assim pelo relatório, tendo em atenção as reuniões concretizadas; e, por fim, a alusão ao Grupo de Trabalho – Bombeiros: Profissão de Desgaste Rápido (GT-B:PDR), que, apesar de ter visto a sua criação deliberada pela CTSSI, nunca chegou a ser formalmente constituído nem a iniciar a sua atividade porque o GP do PSD não indicou o nome dos seus representantes, isto ainda antes de a atual crise política se ter precipitado.”

Atirada a responsabilidade aos sociais-democratas, o deputado socialista afirmou ainda que não fora o seu Grupo Parlamentar a gerar expectativas nos bombeiros (no sentido de verem a profissão legislada como de desgaste rápido).

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Avaliação do Polígrafo:

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