Desde o início do ano que têm circulado no X (antigo Twitter) publicações que indicam que Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), terá defendido “acabar com o dinheiro físico por causa das alterações climáticas”. As publicações já foram partilhadas em várias línguas como português, inglês e espanhol e costumam surgir acompanhadas por um vídeo de Christine Lagarde a falar sobre alterações climáticas.
Mas será mesmo verdade que a presidente do BCE defendeu que se devia “acabar com o dinheiro físico” para reduzir a pegada carbónica e combater as alterações climáticas?
Não, não é. As alegações já foram verificadas por outros órgãos de comunicação social como a organização de fact-checking espanhola “Maldita.es” e a “Euronews” que também chegaram à mesma conclusão.
No final do discurso que tem sido partilhado, Lagarde afirma que no BCE “vão trabalhar para reduzir a pegada carbónica em tudo o que fazem”. “Das notas, à forma como supervisionamos os bancos”, afirma, sem dizer em momento nenhum do vídeo que a redução do impacto ambiental passaria pelo fim do dinheiro físico. O vídeo foi publicado na conta de X oficial da própria presidente do BCE a 30 de janeiro. Na publicação original também não se fala em acabar com o dinheiro físico.
Aliás, o Plano para o Clima e a Natureza 2024-2025 publicado no site do BCE detalha, como já verificou o “Maldita.es” e a “Euronews”, detalha o objetivo de abraçar o “eco-design das novas séries de notas de euros e de notas com 100% algodão orgânico até 2027”. Era, muito provavelmente, a isto que Lagarde se referia no final do discurso quando falou em “reduzir a pegada carbónica” e mencionou as “notas”. Ou seja, não se prevê o fim do dinheiro físico, apenas o surgimento de formas novas de o fabricar.
No mesmo documento também se sublinha a importância de “considerar aspetos ambientais na fase preparatória do design de um euro digital”. A possível futura circulação da moeda digital também não pressupõe a eliminação do numerário. Em janeiro de 2023, nove meses antes de se aprovar a passagem para fase preparação da moeda digital, o Eurogrupo assegurou, em comunicado, que “um euro digital deverá complementar e não substituir o dinheiro”.
Assim sendo, Christine Lagarde não defendeu o fim do dinheiro físico enquanto forma de combate às alterações climáticas. As publicações que têm circulado no X fazem uma interpretação enviesada das declarações de Lagarde e não vão ao encontro de várias medidas já anunciadas pelo BCE.
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