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Portugueses destacam-se “entre os europeus com menor capacidade para pagar contas dentro do prazo”?

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Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
De acordo com uma recente publicação no Facebook, "os portugueses continuam a estar entre os europeus com menor capacidade para pagar contas dentro do prazo e a situação está a degradar-se. (...) Portugal surge no 22.º lugar, numa tabela de 24 países europeus, apenas à frente da Hungria e da Grécia".

“Acorda povo”, começa por se apelar no post de 16 de abril no Facebook. Motivo? A seguinte alegação, em forma de aparente notícia: “Os portugueses continuam a estar entre os europeus com menor capacidade para pagar contas dentro do prazo e a situação está a degradar-se, de acordo com o barómetro de Bem-Estar Financeiro de 2022, lançado pela Intrum. Portugal surge no 22.º lugar, numa tabela de 24 países europeus, apenas à frente da Hungria e da Grécia”.

Exibe-se ainda uma montagem com fotografia de Fernando Medina, ex-autarca de Lisboa e novo ministro das Finanças, que surge associado à seguinte frase: “E eu agora a ministro das Finanças vou saquear o que resta das tuas poupanças.”

Em causa está o “Barómetro do Bem-Estar Financeiro” de 2022, elaborado pela Intrum, uma empresa de serviços de gestão e recuperação de crédito. O Polígrafo obteve acesso ao documento, cedido pela empresa, de forma a verificar os dados.

“Baseia-se em dados de perguntas recorrentes do inquérito ‘European Consumer Payment Report 2021’, combinados com estatísticas nacionais disponíveis, para chegar a uma pontuação geral para cada país. Calculamos a pontuação utilizando uma classificação agregada de bem-estar financeiro em três pilares: capacidade de pagar contas nos prazos, poupar para o futuro e educação financeira. Também levamos em consideração os indicadores-chave relacionados com rácios de endividamento/rendimento dos consumidores”, explica a Intrum.

Começando pelos três países – Alemanha, Áustria e Suíça – que registam um melhor desempenho global no estudo, “a Áustria está na primeira posição, graças aos rendimentos disponíveis das famílias, a uma educação financeira consistentemente elevada, bem como o conhecimento quando se trata de identificar os principais termos financeiros: 69% dos austríacos coincidiu ‘taxa anual’ com a sua definição correcta, valor superior à média europeia de 57%”, salienta-se no documento.

“Os elevados rendimentos disponíveis das famílias apoiaram os consumidores alemães durante um período de incerteza política e de crescente inflação. Em 2021, no entanto, vemos uma ligeira mudança na capacidade do país de poupar para o futuro, em relação a outros países. Na Suíça, os economistas previram em 2021 que os consumidores impulsionariam a recuperação gastando as ‘montanhas de dinheiro economizadas durante a crise’. No nosso estudo, vimos um aumento da proporção de consumidores suíços que fazem poupanças todos os meses“, acrescenta-se.

Relativamente aos países com pior desempenho, “quando a Intrum inquiriu os consumidores no auge da pandemia de 2020, vimos quedas significativas no bem-estar financeiro dos consumidores do Sul da Europa, já que o Covid-19 devastou o sector das viagens e lazer e aprofundou a dívida das famílias pré-existente e a instabilidade financeira em países como Itália, Espanha e Grécia. Pouco mais de um ano depois, Itália, Espanha e Portugal mostram melhorias no seu bem-estar financeiro. Os resultados destes países são melhores em relação aos de 2020, mas vale a pena mencionar que muitos dos seus consumidores foram significativamente impactados pela crise e continuam a lutar”.

“Os países do Sul da Europa são altamente dependentes do Turismo. Como os consumidores reduziram drasticamente ou deixaram mesmo de viajar durante a pandemia, muitas empresas foram forçadas a fechar, o que afectou os meios de subsistência dos empregados nos setores de lazer, hotelaria e outros relacionados. No terceiro trimestre de 2021, a taxa de emprego para quem trabalha no comércio grossista, retalhista, transportes, alojamento e serviços de alimentação ficou 3,2% abaixo do nível pré-pandemia. Para os que eram empregados no setor das artes, entretenimento e recreativo, foi 2,2% abaixo”, destaca-se.

Ainda assim, importa ressalvar que Portugal subiu duas posições (de 19.º para 17.º, num total de 24 países) no ranking global, entre 2020 e 2021.

No que concerne especificamente à “capacidade de pagar contas nos prazos”, confirma-se que Portugal está na cauda da tabela, precisamente na 22.ª posição, “apenas à frente da Hungria e da Grécia”, tal como se alega no post sob análise.

“Face aos recentes acontecimentos mundiais, como a invasão da Ucrânia, é expectável que a situação económica de muitos consumidores piore. A inflação vai acelerar ainda mais, tornando os orçamentos familiares mais difíceis de manter. Muitos precisarão de priorizar o pagamento de contas e alimentos, em vez de pagar dívidas. Se a pressão sobre os preços persistir por muito mais tempo, tal poderá resultar num maior número de incumprimentos“, conjetura Anna Zabrodzka, economista da Intrum.

Na categoria de “Poupar para o Futuro”, Portugal está na 16.ª posição da tabela. O melhor desempenho dos portugueses regista-se na categoria de “Literacia Financeira”, na 6.ª posição.

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Avaliação do Polígrafo:

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