“Em Portugal, são mais de 400 mil o número de estudantes no Ensino Superior. Tendo Portugal a quinta maior taxa de emigração de licenciados na Europa, todos os anos 20 mil recém-licenciados deixam o país”, salienta-se num recente post no Facebook, alertando para o impacto dessa emigração na economia portuguesa.
De acordo com as contas do autor da publicação, equivale a “37% do total dos 50 mil que saem das universidades e institutos politécnicos portugueses”. Acrescenta-se ainda que “na década passada, Portugal perdeu 653 mil pessoas em idade activa para a emigração, das quais 194 mil eram licenciadas”.
E conclui: “Em termos de investimento do Estado, estes licenciados representam uma perda de 1,9 mil milhões de euros por ano, acrescidos da perda de receita de IRS e Segurança Social dos emigrantes em idade ativa, que se estimam em 2,3 e 4,7 mil milhões de euros – o equivalente a 60% da receita de IRS cobrada em 2021.”
Estes números têm fundamento?
A maior parte dos dados referidos tem origem num inquérito realizado pela Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP), divulgado em março de 2023, apesar de ligeiras imprecisões.
Nesse documento indica-se – com base em conclusões do Observatório da Emigração – que “Portugal é o 8.º país com maior taxa de emigração do mundo (5.º da Europa)”, mas numa perspetiva global. Ou seja, não tendo em conta apenas a saída de licenciados para o estrangeiro.
No entanto, importa ressalvar que os mais recentes dados divulgados pelo Observatório da Emigração sobre esta matéria – na edição de outubro de 2023 do “Atlas da Emigração Portuguesa” – contêm atualizações significativas. De facto, “em termos relativos, em proporção da população nacional”, a emigração portuguesa já sobressai como “a maior da Europa e a oitava maior do mundo”, quando descontados do cálculo “os pequenos países, com menos de um milhão de habitantes”.
O mesmo estudo da Associação BRP revela também que, em média, “saíram” do país “quase 20 mil licenciados por ano desde 2016” – e não recém-licenciados, como se afirma na publicação do Facebook. Isto numa altura em que “a média anual de novos licenciados em Portugal no mesmo período foi de 50 mil”, pelo que, “a cada ano estamos a perder o equivalente a 37% dos novos licenciados”.
Ainda assim, confirma-se a alegação de que na década passada – mais especificamente entre 2012 e 2021 -, “dos emigrantes líquidos portugueses, cerca de 88%” terão saído do país “em idade ativa (653 mil)”, segundo as estimativas da Associação BRP. “Destes emigrantes, 194 mil serão licenciados, o que equivale a 10,4% da população em idade ativa com este nível de escolaridade”, informa-se no mesmo relatório.
O documento sustenta ainda outra das conclusões defendidas pelo autor do post em causa, ao apontar o seguinte: “Cerca de 1,9 mil milhões de euros de investimento público perdido, acrescidos da perda de receita de IRS e Segurança Social dos emigrantes em idade ativa, que estimamos em 2,3 e 4,7 mil milhões de euros, equivalem a 60% da receita de IRS cobrada em 2021.”
Em suma, o post mistura dados corretos com algumas imprecisões que devem ser tidas em atenção.
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Avaliação do Polígrafo: